"Os últimos resultados eleitorais não foram satisfatórios e são sinais claros de que o partido precisa de um novo fôlego. A razão pela qual lutei tanto nos últimos meses para liderar este partido não foi só porque queria, mas porque sentia que era possível alcançar objetivos claros e precisos, isso não foi possível", disse Miguel Gomes, numa conferência de imprensa na quarta-feira, na sede do partido na capital são-tomense.

O ex-padre da igreja católica são-tomense tinha sido eleito em março presidente do MDFM/UL tendo sido candidato a deputado no círculo eleitoral do distrito de Lembá, no norte de São Tomé, e candidato a primeiro-ministro nas eleições legislativas de São Tomé e Príncipe, que decorreram em 25 de setembro.

Com a derrota eleitoral, Miguel Gomes considera que "hoje o partido precisa claramente de um novo líder", sublinhando que "o processo para o escolher deve começar já".

"Na política ninguém é indispensável. Mesmo que as coisas pareçam negras agora, e que pareça não haver mais esperança, o futuro do MDFM/UL é dourado e promissor", declarou o presidente demissionário do partido fundado pelo ex-presidente são-tomense Fradique de Menezes.

Miguel Gomes afirmou que termina a missão na presidência do MDFM/UL "com a consciência de dever cumprido e de ter contribuído para a construção de um São Tomé e Príncipe melhor".

"O legado que deixo é o compromisso da construção coletiva de diálogo para buscar consenso e a implementação de uma nova cultura política baseada na honestidade, na paz, na tolerância, no consenso, sem demagogia, e sobretudo, no colocar São Tomé e Príncipe no primeiro lugar", sublinhou.

"À minha terra e ao meu povo, quero aqui afirmar que não desonrei o meu nome no exercício da minha função que os militantes me conferiram, ao contrário, sempre recebendo as bênçãos de Deus que iluminou e ilumina o meu caminho, servi na presidência do MDFM/UL com a mesma honradez e dignidade que tenho pautado a minha vida e conduta do meu ser", acrescentou Miguel Gomes.

Na sua última mensagem, Miguel Gomes felicitou "o povo são-tomenses pela forma ordeira como tem participado nas últimas eleições em São Tomé e Príncipe", tendo declarado que "o MDFM/UL reconhece os resultados das últimas eleições" e felicita "o partido ADI na pessoa do doutor Patrice Trovoada pela vitória e maioria absoluta adquirida".

Segundo os dados oficiais divulgados pelo Tribunal Constitucional o MDFM/UL conquistou 1.597 votos (1,99%) nas eleições de 25 de setembro ganhas com maioria absoluta pela Ação Democrática Independente (ADI), do ex-primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada.

Após a conclusão do apuramento distrital e da diáspora presididas por magistrados que atribuiu os votos aos 11 partidos, coligações e movimentos que concorreram às eleições de 25 de setembro, o Movimento Basta, o MDFM/UL e a União Democrática para o Desenvolvimento (UDD) apresentaram um pedido de "coligação de candidaturas" para fossem "aproveitados os votos de umas a favor de outra candidatura mais votada da referida coligação", no caso, o movimento Basta que passaria a contar com mais 2.332 votos do MDFM/UL e da UDD, subindo para 9.206 votos.

Com esta pretensão, as três forças procuravam reeditar uma coligação semelhante à que concorreu às legislativas de 2018, com o Partido da Convergência Democrática (que foi absorvido pelo Basta), o MDFM e a UDD, e que conquistou então cinco lugares na Assembleia Nacional.

O pedido foi rejeitado pelos juízes do Tribunal Constitucional (TC), com o presidente do tribunal, Pascoal Daio, a sublinhar a "manifesta ilegalidade e inconstitucionalidade" desta pretensão.

A Ação Democrática Independente (ADI) venceu, com maioria absoluta de 30 deputados, as eleições legislativas de São Tomé e Príncipe, segundo os resultados definitivos divulgados na segunda-feira pelo Tribunal Constitucional.

O Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), do atual primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, que procurava um segundo mandato nestas eleições, recebeu 25.287 votos, equivalentes a 18 deputados.

O líder do MLSTP/PSD e primeiro-ministro cessante garantiu na terça-feira que vai "respeitar os resultados" das legislativas de 25 de setembro e felicitou a ADI, vencedor com maioria absoluta, prometendo "uma oposição construtiva".

A terceira força política no parlamento são-tomense, com cinco eleitos, será a coligação Movimento de Cidadãos Independentes -- Partido Socialista / Partido de Unidade Nacional (MCIS-PS/PUN, mais conhecido como 'movimento de Caué', distrito no sul da ilha de São Tomé), após ter tido 4.995 votos.

Mais votos, mas menos mandatos, foi o resultado do movimento Basta -- que absorveu o histórico PCD e acolheu ex-membros da ADI. O Basta, que tinha como um dos cabeças de lista o presidente do parlamento, Delfim Neves, avançou pela primeira vez para as urnas e obteve um total de 6.788 votos, elegendo dois deputados.

 

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