"As decisões que a China irá tomar perante esta violação flagrante e brutal do direito internacional terão um impacto importante, de longo prazo, no que se refere ao diálogo necessário com este país", afirmou João Gomes Cravinho.

O ministro da Defesa Nacional falava, através de uma mensagem pré-gravada, na conferência "A Invasão da Ucrânia", organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, e em que participaram também personalidades como o antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia entre 2004 e 2014, Durão Barroso, a antiga alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança Catherine Ashton ou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Na intervenção, proferida em inglês, Gomes Cravinho afirmou que a União Europeia (UE) pretende "evitar um mundo de blocos fechados", mas frisou que, com a guerra na Ucrânia, tornou-se "claro que o modelo ingénuo de um mundo que, de repente, se teria tornado seguro através da globalização terá de ser substituído por uma ordem em que haverá um equilíbrio entre integração económica internacional e confiança geopolítica".

"Há muito trabalho a fazer para imaginar e renegociar uma ordem mundial", frisou.

Na ótica do governante, o "regresso da guerra" à Europa -- que qualificou como "momento de viragem histórica" -- cria "desafios" e "implicações" para o futuro da UE, sobretudo porque mostrou a "natureza precária da paz" e provou que os "europeus já não podem ignorar as lições de séculos de história".

Nesse sentido, Gomes Cravinho sublinhou a necessidade de a Europa se dotar dos "meios para proteger e promover" os seus valores e defendeu que a paz "requer capacidades militares e parcerias próximas com países que partilham os mesmos valores em todo o mundo".

"Senão, os nossos valores, os nossos interesses, as nossas vidas, ficarão à mercê de qualquer tirano agressivo com Forças Armadas poderosas", disse.

Fazendo a ponte com o investimento em Defesa, o ministro referiu que os "países europeus já estão a investir de maneira significativa", mas salientou a necessidade de se "investir mais e melhor".

Segundo Gomes Cravinho, "uma defesa mais forte da União Europeu não erode a NATO, pelo contrário", considerando que, "num contexto em que estão a surgir, noutras partes do mundo, desafios estratégicos", os europeus devem assumir "mais responsabilidades pela sua segurança".

Com duras críticas ao Presidente russo, Vladimir Putin, - que acusou de ser o único culpado pelo conflito na Ucrânia, um conflito desencadeado "depois de meses de mentiras e desinformação" -, Gomes Cravinho frisou, no entanto, que a Europa não se pode "dar ao luxo de não falar" com a Rússia.

"Nós vamos ter que falar com a Rússia, mas a quebra de confiança não será ultrapassada nem de maneira fácil, nem rápida. A Rússia irá ter de assumir a responsabilidades pelas consequências [da guerra]", frisou.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 902 mortos e 1.459 feridos entre a população civil, incluindo mais de 170 crianças, e provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, entre as quais mais de 3,3 milhões para os países vizinhos, indicam os mais recentes dados da ONU.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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