
"É diferente do clima que se vivia em 2024. Em 2024, o clima que se vivia era exatamente o oposto: a disputa pelo poder, que podia surgir em qualquer momento, não se sabia quando, se em 2025, se em 2026, quando era, e, de alguma maneira, o passar para segundo plano os efeitos negativos vindos de fora", comentou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado falava à imprensa à margem de um encontro com a comunidade portuguesa em Estugarda, onde se deslocou hoje acompanhado do primeiro-ministro, Luís Montenegro, numa cerimónia já de comemoração do 10 de junho, Dia de Portugal, na véspera de ambos assistirem, em Munique, à final da Liga das Nações em futebol, entre Portugal e Espanha.
Questionado sobre se a Alemanha pode ser uma inspiração para Portugal, dado os conservadores da CDU, do agora chanceler Friedrich Merz, terem formado uma coligação governamental com os sociais-democratas do SPD (socialistas), isolando o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha, Marcelo respondeu que "cada país é um país, mas há sinais positivos em Portugal".
"O facto, por exemplo, de os dois principais partidos da oposição [Chega e PS], em termos diferentes, afirmarem que a estabilidade é fundamental é positivo. O facto de o líder de um desses partidos propor pactos, ou acordos ou entendimentos e uma predisposição para, em relação ao orçamento como em relação a medidas comuns fundamentais para a economia portuguesa, estar aberto ao diálogo é positivo. O facto de o outro partido também estar predisposto a procurar um caminho de estabilidade e não de crise durante um período considerável de tempo é positivo", disse.
De acordo com o Presidente da República, "o que a união permite fazer em termos de força não é os partidos serem iguais, não é haver confusão entre Governo e oposição, mas é criar condições de estabilidade para enfrentar um problema externo".
Escusando-se a comentar se José Luís Carneiro como secretário-geral do PS será um maior garante de estabilidade, Marcelo escusou-se a "falar de quem é que os socialistas vão escolher para líder", mas insistiu que "é bom sinal ouvir a predisposição para viabilizar o programa de Governo, para estar aberto a falar sobre o orçamento, para estar aberto a falar sobre temas que são fundamentais".
Já sobre o facto de, na tomada de posse do novo Governo, na quinta-feira, ter considerado Luís Montenegro um "resistente", o chefe de Estado esclareceu que se trata de "um elogio".
"Na política, a resistência é fundamental. Uma pessoa que chega num determinado momento a uma disputa eleitoral, como aconteceu no começo do ano passado, ganha em circunstâncias muito difíceis, depois define uma política, surge uma alteração da situação internacional, há a necessidade sentida pelos vários protagonistas, de ir a eleições, vence as eleições reforçadamente... acho que é um resistente", declarou.
A seu lado, Montenegro, questionado também sobre a solução governativa alemã, apontou que "há uma cultura política na Alemanha que tem um histórico diferente" do de Portugal e lembrou que "estes governos muitas vezes sustentados pelas duas grandes forças políticas não são um caso muito invulgar".
"A verdade é só uma: os resultados eleitorais têm alguma semelhança, mas aquilo que importa é nós garantirmos condições de governabilidade, de execução do programa de Governo e estabilidade política para quatro anos", disse.
"Creio que os alemães conseguiram isso de uma forma mais formal. A nossa forma não é essa, mas é a de um diálogo aberto com todas as forças políticas com representação parlamentar, sabendo nós onde é que estão as disponibilidades mais consistentes e mais condizentes com os princípios da governação. Mas nós caminharemos com o espírito de diálogo que prometemos e que também ouvimos aos outros partidos, quer na campanha eleitoral, quer já depois dela", finalizou.
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