A exatamente dois meses do arranque da Expo 2020 Dubai, que foi adiada por um ano devido à pandemia, Luís Castro Henriques, faz o ponto de situação do regresso de Portugal à maior exposição mundial nesta região do globo, em entrevista à Lusa, depois de um interregno de mais de 10 anos.

A última participação portuguesa numa exposição mundial foi em Xangai, em 2010.

"Esta é uma aposta muito forte (...), é um investimento muito grande para Portugal, não tenhamos dúvida nenhuma disso", afirma Luís Castro Henriques, que foi nomeado comissário-geral para a Expo 2020 há cerca de dois meses.

"Tudo isto foi dimensionado" antes da pandemia, pelo que tiveram de ser feitas adaptações.

O objetivo desta participação "é voltarmos a estes palcos das Expo's, que têm muita notoriedade, com pessoas que vêm do mundo inteiro, que têm visibilidade mediática durante seis meses muito elevada e, portanto, é óbvio que se faz aqui uma grande aposta para se voltar" a este tipo de exposições, referiu.

A Expo 2020 decorre no Dubai, emirado do Golfo Pérsico, a primeira cidade do Médio Oriente a organizar esta exposição mundial com cerca de 170 anos, e arranca em 01 de outubro decorrendo até 31 de março de 2022, num total de 182 dias.

"Aliás, por isso é que [a exposição] até é feita num calendário diferente. Esta feira arranca em outubro -- normalmente as feiras arrancam de março a outubro, e esta é ao contrário, arranca em outubro e vai até ao final de março", aponta o responsável.

Portugal construiu um pavilhão de raiz nesta feira mundial, o que representa "uma abordagem diferente" da presença nas exposições mundiais anteriores.

"Há uma dimensão diferente da nossa presença que eu acho que é muito relevante e eu isso estou certo de que vai trazer resultados em termos de notoriedade do país e de continuarmos a construir esta perceção externa do que é que é o Portugal do século XXI", afirma o também presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).

"Acho que é muito importante porque quando eu partilho os dados do comércio externo, o enquadramento do investimento em Portugal tipicamente para quem nunca esteve" no país "é uma surpresa e eu estou certo que a experiência de quem passar por aqui" e "nunca tenha ido a Portugal vai ter exatamente essa surpresa positiva sobre Portugal", considera.

"É muito importante perceber que uma Expo tem várias dimensões", sendo que as pessoas associam a exposição mundial com a parte cultural.

Na área cultural, Portugal vai ter uma programação que vai permitir "afirmar-se perante os outros e deixar, de certeza, memórias", passando uma "imagem" de que o país "consegue fazer esta aliança entre tradição, cosmopolitismo e inovação", sublinha Luís Castro Henriques.

"Em cima disso, também iremos ter um conjunto de eventos de índole económica e empresarial e creio que essa combinação, esta diversidade de objetivos tem de ser contemplada numa Expo", salienta.

"É um esforço muito grande, envolve uma equipa relevante e estou certo que vai ser um sucesso", sublinha Luís Castro Henriques.

O lema de Portugal na feira é 'um mundo num país' e "é esse o objetivo", salienta Luís Castro Henriques, esperando que "traga um mundo de oportunidades também".

Perante uma Expo ainda em obras e a terminar a construção de alguns pavilhões, entre os quais o da Venezuela, o calor tórrido que chega a ultrapassar os 45 graus obriga os trabalhadores a interromper a jornada à hora de almoço por mais de duas horas - altura em que os termómetros se aproximam dos 50 graus.

No Pavilhão de Portugal, com uma área de 1.800 metros quadrados e dois pisos, ultimam-se os detalhes, onde não falta a calçada portuguesa, azulejos da Viúva Lamego, cadeiras e candeeiros em cortiça e até oliveiras.

"Até a iluminação é portuguesa, portanto é óbvio que tudo o que era possível ser português foi incorporado e aliás, o próprio projeto arquitetónico já tinha essa preponderância", salienta Luís Castro Henriques, que aponta "dezenas de empresas portuguesas envolvidas" no projeto do Pavilhão de Portugal.

O objetivo é que os visitantes conheçam o "Portugal moderno", diz, com entusiasmo.

"O que pretendemos é que consigam ver os produtos únicos que aliam a tradição com a inovação e com design do século XXI que Portugal hoje em dia oferece e que alguns" desses produtos também serão expostos na 'concept store' que o Pavilhão vai ter no andar de baixo.

Sobre o investimento global da participação portuguesa, o responsável admitiu que houve "ajustamentos com a mudança" provocada pela pandemia,

"O nosso objetivo é manter tudo dentro dos mesmos valores previstos, que estavam nos 21 milhões, 21,5 milhões de euros e tudo indica que iremos concretizar isso".

Neste momento, "o Pavilhão está todo construído nesta fase", mas "ainda há muito trabalho nestes últimos 60 dias até chegarmos à inauguração da Expo".

O Pavilhão de Portugal teve um "investimento significativo" de "mais de cinco milhões de euros" só na sua construção.

"Como podem ver tem uma localização fantástica, está muito bem posicionado dentro da própria Expo, tem uma infraestrutura até muito virada para fora, para ter eventos, receber os visitantes enquanto estão a ocorrer outros eventos na Expo que podem ser vistos também a partir daqui", aponta.

"É uma arquitetura naturalmente portuguesa e que creio que veicula uma boa imagem do Portugal moderno e da boa arquitetura portuguesa que tem hoje em dia nome já global".

Na opinião do comissário-geral, quem passar pelo Pavilhão de Portugal ficará "com uma ideia diferente" do país, "de produtos únicos, sustentáveis, bem desenhados e inovadores".

O Pavilhão será inaugurado, "à partida", em 19 de setembro, pelo secretário de Estado da Internacionalização, a poucas semanas da inauguração da Expo 2020 Dubai.

Relativamente ao impacto do adiamento do evento devido à pandemia de covid-19, Luís Castro Henriques aproveita para dar "uma nota a todos os parceiros que trabalharam" no projeto durante o período, "porque não foi fácil".

Em primeiro lugar, porque "foi preciso fazer uma série de adaptações à própria operação, tivemos de recalendarizar tudo, depois também tivemos complicações obviamente ao nível da movimentação de bens", relata.

Depois "tivemos de recalendarizar tudo um ano para a frente, tivemos de adaptar prazos de entrega de alguns produtos e equipamentos, tivemos também de recalendarizar a construção e, acima de tudo, a mensagem que queria passar (...) é que de facto foram parceiros fantásticos que conseguiram adaptar-se, como os portugueses conseguem sempre, e concretizar tudo da melhor forma possível e em tempo".

E o que se pode esperar do Pavilhão de Portugal? "Como é óbvio estou enviesado, mas espero que seja uma das melhores experiências da Expo e espero que de facto as pessoas que passem por aqui - temos de ter a perceção [que] a larga maioria dos visitantes nunca foi a Portugal e têm uma ideia vaga ou diria, se calhar, só histórica de Portugal -- (...) fiquem com uma perspetiva do que é o Portugal do século XXI".

Ou seja, "um país que faz pontes com o resto do mundo, aliás, o lema do pavilhão é 'um mundo num país', o que demonstra o cosmopolitismo, a abertura que Portugal tem ao mundo e que é particularmente relevante aqui no Golfo porque estamos numa zona do mundo que vive de trocas e de comércio e que é uma plataforma para ligar o Leste e o Oeste".

A ideia principal, "é que as pessoas saiam daqui com a perceção" que Portugal é "competitivo", tem "produtos de alta qualidade", é "inovador e até vou mais longe: surpreendente", remata Luís Castro Henriques.

Sobre as expectativas, o comissário-geral disse que tem a ver com as da própria exposição, a qual foram revistas no decurso da pandemia.

"A expectativa inicial era que teríamos mais de 20 milhões de visitantes da feira como um todo. A ideia que eu tenho neste momento é que a feira estima que terá entre cinco a 7,5 milhões de visitantes", refere.

"Dada a localização, a qualidade, a visibilidade do pavilhão, eu espero que tenhamos uma fatia relevante desses visitantes", conclui.

Entretanto, as obras da Exposição Mundial no Dubai, um dos sete emirados dos Emirados Árabes Unidos, continuam, com paragens de mais de duas horas para que os trabalhadores possam descansar, uma medida devido à altas temperaturas que se registam nesta altura do ano.

*** A Lusa viajou a convite da AICEP ***

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