Uma doação de quase mil milhões de coroas checas (cerca de 40 milhões de euros) em bitcoins está a abalar o governo da Chéquia. O ministro da Justiça, Pavel Blažek, demitiu-se na passada sexta-feira depois de o caso se ter tornado público.

Tudo começou quando o Ministério da Justiça anunciou, na rede social X, que tinha leiloado cerca de 500 bitcoins recebidas como doação. O problema: as bitcoins tinham sido oferecidas por Tomáš Jiřikovský, um criminoso condenado por tráfico de droga, desvio de fundos e posse ilegal de armas, ligado ao mercado ilegal da dark web. A origem da doação foi revelada pelo jornal “Deník N”.

O ministro demissionário alegou que agiu dentro da legalidade e que os fundos serviriam para digitalizar o sistema judicial, combater o consumo de droga nas prisões e melhorar as condições de trabalho dos guardas prisionais.

A oposição, liderada pelo partido populista ANO de Andrej Babiš, acusa o Governo de lavar dinheiro da droga e exige a demissão do executivo.

“Lavaram dinheiro de droga, literalmente. Isto é motivo para a queda de todo o Governo”, escreveu Andrej Babiš na rede social X.

A demissão do ministro da Justiça não foi suficiente para travar o caso. Esta segunda-feira, a Rádio de Praga dá conta de suspeitas de que parte dos fundos da carteira digital envolvida na doação terão sido movimentados ainda antes de o Ministério ter tido acesso aos ativos.

Pavel Blažek já somava algumas polémicas durante o percurso no Governo. Era, aliás, conhecido como “Don Pablo”, como refere o Político, por ter participado numa festa de um lobista pró-russo e por suspeitas de corrupção relacionadas com a habitação municipal.

“Foi tão ultra-legal que não podia ser mais legal”, chegou a afirmar quando apresentou a demissão.

Um analista político, ouvido pela Rádio de Praga, considera que o escândalo pode deixar marcas profundas na coligação de governo (SPOLU) e que muitos eleitores poderão perder a confiança nos partidos tradicionais - ainda mais com eleições à porta, marcadas para os dias 3 e 4 de outubro.

A Unidade Nacional de Combate ao Crime Organizado e a Procuradoria estão a investigar o caso. De acordo com o Le Monde, em causa estão suspeitas de branqueamento de capitais, abuso de poder e tráfico de droga.