Numa conferência de imprensa em Kiev, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, criticou a Alemanha por estar a considerar a certificação do gasoduto que vai transportar gás natural russo diretamente para consumidores alemães, contornando a Ucrânia.

"Não se pode expressar solidariedade com a Ucrânia com uma mão e assinar os documentos de certificação do Nord Stream 2 com a outra mão. Isso não está certo", disse Morawiecki, citado pelas agências ucraniana Ukrinform e norte-americana Associated Press.

Morawiecki disse que ao permitir a entrada em funcionamento do gasoduto, a Alemanha estará a entregar ao Presidente russo, Vladimir Putin, uma "arma que poderá utilizar para chantagear toda a Europa".

A seu lado, o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, defendeu que o mundo civilizado, incluindo a Alemanha, deve "tomar todas as medidas possíveis para impedir" a utilização do gasoduto contra a Ucrânia, a Polónia e a UE.

"No meio de uma escalada crescente, de uma possível agressão, que temos vindo a enfrentar há oito anos, esperamos uma atitude responsável dos nossos parceiros alemães, em particular", disse Shmyhal, citado pela agência estatal ucraniana.

A Alemanha tem sido criticada por uma atitude considerada demasiado flexível em relação à Rússia.

O novo Governo do chanceler Olaf Scholz só admitiu pela primeira vez na semana passada usar o gasoduto como parte de "sanções severas" contra Moscovo, no caso de uma agressão contra a Ucrânia.

O Governo de coligação -- que reúne sociais-democratas, favoráveis a uma abordagem conciliatória com Moscovo, e ambientalistas e liberais, a favor de uma linha mais dura -- tem tido posições oscilantes sobre o Nord Stream 2.

Olaf Scholz por vezes referiu-se ao gasoduto como um "projeto privado", para não se envolver em questões políticas, outras vezes mencionou um acordo de princípio entre Berlim e Washington, que prevê que o projeto seja interrompido em caso de agressão militar à Ucrânia.

O gasoduto - que levará gás russo para a Alemanha e para a Europa através do Mar Báltico, contornando a Ucrânia -- está já concluído, mas o seu uso e comissionamento está bloqueado pelo regulador de energia alemão, por razões legais.

A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock (dos Verdes alemães), vai visitar a Ucrânia nos dias 07 e 08 de fevereiro, juntamente com o seu homólogo francês, Jean-Yves Le Drian, anunciou hoje o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano.

A França exerce atualmente a presidência semestral do Conselho da UE.

Os dirigentes ucranianos e ocidentais acusam a Rússia de ter concentrado dezenas de milhares de tropas na fronteira da Ucrânia para invadir novamente o país, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia, em 2014.

A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas condiciona o desanuviamento da crise a exigências que diz serem necessárias para garantir a sua segurança.

Essas exigências incluem uma garantia de que a Ucrânia nunca será membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e que a Aliança retirará as suas tropas na Europa de Leste para posições anteriores a 1997.

Os Estados Unidos rejeitaram as exigências russas, mas deixaram a porta aberta para conversações sobre outras questões de segurança, tais como destacamentos de mísseis ou limites recíprocos de exercícios militares.

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