
"Em Melilla nunca aconteceu nada desta dimensão, com dezenas de migrantes mortos, muitos provenientes do Sudão e do Sudão do Sul", indicou o embaixador Otmane Bahnini num encontro com jornalistas na representação diplomática.
"Parece existir a vontade de colocar problemas a Marrocos e a Espanha e há indicações que Marrocos pode confrontar-se com mais situações", admitiu o diplomata, numa referência aos recentes acontecimentos junto à fronteira comum, no norte do país magrebino.
O embaixador marroquino em Lisboa enunciou hoje as três vias utilizadas pelos migrantes que pretendem alcançar a Europa: uma situada a leste através da Síria, a central através da Líbia - considerada a menos vigiada e a mais utilizada - e a ocidental, através de Marrocos.
Otmane Bahnini questionou o facto de os migrantes sudaneses terem optado por esta última, sendo forçados a uma longa travessia pelo deserto da Líbia, e através da vizinha Argélia.
"Eram 2.000 pessoas preparadas, organizadas e armadas, muitas com armas brancas", assinalou, indicando que a polícia marroquina apenas utilizou gás lacrimogéneo e bastões para enfrentar os migrantes, que tentaram ultrapassar o posto fronteiriço através de "quatro corredores estreitos", originando o tumulto.
Marrocos considera que se assistiu a uma "agressão" e refere-se a uma "estratégia de assalto" que também incluiu uma "estrutura hierárquica de dirigentes experientes, com o perfil de milicianos treinados em zonas de conflito", numa referência velada à Argélia, apoiante da Frente Polisário que desde a década de 1970 combate pela autonomia do Saara ocidental.
Segundo as autoridades marroquinas, pelo menos 23 pessoas, na maioria de origem sudanesa, morreram quando cerca de 2.000 migrantes tentaram transpor a passagem e o muro de separação gradeado que separa Melilla da cidade fronteiriça marroquina de Nador, havendo registo de 76 feridos, 18 ainda hospitalizados.
No entanto, diversas Organizações não governamentais (ONG) referiram-se a "pelo menos 37 migrantes mortos", num incidente que já motivou diversas manifestações de protesto em várias cidades espanholas contra "as políticas migratórias materializadas na brutalidade policial e na militarização das fronteiras", e quando forças seguranças espanholas do enclave também se envolveram nos incidentes.
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