Numa pesquisa pela imprensa cabo-verdiana nos últimos dez anos, há registo de vários sismos ocorridos na ilha da Brava, muitas vezes impercetíveis para a população local.

Em junho de 2006, a ilha, a mais pequena de Cabo Verde, situada no Sotavento do arquipélago, foi sacudida por um forte abalo sísmico, em que não se conseguiu determinar a magnitude, tendo provocado danos materiais em habitações e deixado dezenas de pessoas desalojadas.

Seis meses depois, em janeiro de 2007, a ilha, situada a quatro quilómetros da do Fogo, onde existe um vulcão ativo, foi abalada por seis sismos, mas foi outra vez impossível determinar a intensidade dos tremores, devido à falta de sismógrafos na ilha. Dessa vez não houve danos.

Em outubro de 2010, a ilha foi abalada por vários tremores de terra, sem causar danos, mas a população ficou alarmada.

Na altura, e após a rede de controlo sísmico e vulcânico do Fogo ter registado um agravamento da atividade, técnicos admitiram a hipótese de erupção, mas tal não chegou a acontecer.

A ilha da Brava voltou a tremer na madrugada de 11 de agosto de 2011, com alguma intensidade e com a duração de um minuto, percetível por poucas pessoas, que se dizem habituadas ao fenómeno natural.

Em setembro de 2015, um sismo de fraca magnitude foi sentido na Brava e na vizinha ilha do Fogo, com epicentro a cerca de cinco quilómetros da costa sudoeste da Brava, tendo chegado aos quatro graus na Escala de Richter.

O Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) disse, na altura, que o tremor foi de fraca intensidade e não havia motivos para preocupação, pois não houve danos materiais.

A última atividade sísmica, e a mais intensa, está a acontecer desde a noite de segunda-feira e levou o Governo cabo-verdiano a admitir a possibilidade de uma erupção vulcânica.

"Os dados do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) apontam para o intensificar da atividade sísmica na ilha Brava e, caso essa atividade se mantenha, poderemos, eventualmente, vir a ter uma erupção na ilha e nas próximas horas", disse o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, após uma reunião governamental, onde foi criado um gabinete de crise para acompanhar a situação na também conhecida como ilha das Flores.

Os sismos estão a acontecer na localidade de Cova Joana, com cerca de 300 habitantes, que já foram evacuados para Nova Sintra, o maior centro da ilha da Brava, com uma área de 64 km2 e cerca de seis mil habitantes.

Brava, a mais pequena e a mais a sul do arquipélago cabo-verdiano, formado por dez ilhas de origem vulcânica, é vizinha da ilha do Fogo, que registou uma erupção vulcânica em setembro de 2014 até fevereiro de 2015, com inúmeros estragos, mas sem registo de vítimas.

A última atividade sísmica associada à última erupção vulcânica na ilha do Fogo e as duas que a antecederam, em 1951 e 1995, também foi sentida na Brava, onde há registos de crises sísmicas em 1980 e 1981, segundo a investigadora cabo-verdiana Vera Alfama.

No resumo da tese de doutoramento intitulada "Avaliação dos Perigos Geológicos na ilha Brava: Implicações no Planeamento de Emergência", Vera Alfama escreveu que a atividade sísmica na Brava se tem revelado "mais importante", com "ocorrência de crises sísmicas".

"Apesar de na ilha Brava não se ter registado qualquer erupção vulcânica histórica (desde início do séc. XVI, data do seu povoamento), é possível identificar a existência de produtos vulcânicos recentes, possivelmente holocénicos, bem como de alguns cones de escória posteriores, indicando que alguns dos sistemas vulcânicos presentes se encontram ainda ativos", lê-se no trabalho de investigação.

O ministro da Administração Interna e o geofísico Bruno Faria, do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG), avançaram à imprensa cabo-verdiana que a atividade sísmica reduziu de intensidade nas últimas horas, tendo o ministro garantido que, a continuar assim, poder-se-á levantar o alerta na localidade de Cova Joana.

Uma equipa da Universidade Pública de Cabo Verde (Uni-CV), que acompanhou a erupção vulcânica no Fogo, desloca-se na quarta-feira à ilha para monitorar de perto a atividade sísmica.

RYPE // JPF

Lusa/Fim