
No final de uma audiência com o Presidente da República sobre o Orçamento do Estado para 2023, João Cotrim Figueiredo foi questionado se, em privado, as explicações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre este tema foram mais satisfatórias.
"Não vou trair a confidência, mas acho que há coisas que, no futuro, poderão levar a entender melhor as posições que foram tomadas", disse, sem detalhar a que se referia.
Questionado sobre a posição do primeiro-ministro, que manifestou solidariedade ao chefe de Estado falando de "uma interpretação inaceitável" das palavras do Presidente, Cotrim Figueiredo disse não pôr em dúvida que Marcelo Rebelo de Sousa "possa ter sido mal interpretado".
"Mas uma pessoa, quando por deficiência de comunicação, ofende ou magoa terceiros, não tem nada mais do que reconhecer que errou e pedir desculpa, era isso que nós exigíamos que fosse feito e até agora não aconteceu", afirmou.
O presidente da IL assumiu que este tema também fez parte da audiência que teve no Palácio de Belém, dizendo que, tal como em outras reuniões com o Presidente da República, esta também foi "profunda e franca".
"Apenas devo reforçar a posição oficial que o partido ontem assumiu em que considerou lamentáveis as posições do Presidente da República e que deveria ter pedido desculpas às numerosas vítimas dos crimes de abuso sexual de menores da Igreja Católica em Portugal", afirmou.
Na terça-feira, questionado sobre a recolha de 424 testemunhos de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica em Portugal, o Presidente da República afirmou não estar surpreendido, salientou que "não há limite de tempo para estas queixas" que têm estado a ser recolhidas, algumas relativas "há 60 ou há 70 ou há 80 anos".
"Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares", prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, concluindo: "Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos".
Face às críticas que estas declarações suscitaram, o chefe de Estado divulgou uma nota na qual afirma que "este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo", admitindo que "terá havido também números muito superiores em Portugal".
Depois, o Presidente da República falou para a RTP e para a SIC a reforçar a mesma mensagem, reiterando que 424 queixas lhe parece um número "curto", declarando que aceita democraticamente as críticas que recebeu, mas não as compreende.
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