
As exposições "Wentworth-Fitzwilliam. Uma Coleção Inglesa" e "Calouste S. Gulbenkian e o gosto inglês" foram hoje apresentadas numa visita guiada para jornalistas que contou com a presença da nova diretora do Museu Gulbenkian, a britânica Penelope Curtis.
"Parece uma ironia que começo o meu trabalho aqui na Gulbenkian com duas exposições sobre o gosto inglês, mas na verdade é uma coincidência pura", disse Penelope Curtis, dirigindo-se aos jornalistas em português.
A nova diretora do Museu Gulbenkian - que iniciou funções em setembro deste ano, após um concurso internacional, na sequência da aposentação de João Castel-Branco - fez questão de falar português, ressalvando que "não é ainda suficientemente complexo para abordar o mundo da arte".
"É uma oportunidade excecional a presença de obras destas duas coleções" acrescentou, sublinhando que reúnem obras de todo o mundo.
"Wentworth-Fitzwilliam. Uma Coleção Inglesa" é uma exposição com curadoria de Luísa Sampaio, e apresenta 56 obras de mestres da pintura como Anton van Dyck, Canaletto e Claude Lorrain, Claude Joseph Vernet, Jan van Goyen, Hans Memling, Salomon van Ruysdael e George Stubbs, entre outros, pertencentes a uma das mais prestigiadas coleções privadas de arte do Reino Unido.
Trata-se de uma coleção reunida ao longo de quatrocentos anos e que testemunha alguns momentos cruciais da história de Inglaterra, e a atual proprietária passa algumas temporadas em Lisboa, onde tem casa, no Bairro Alto, indicou a comissária.
À semelhança da coleção de pintura reunida por Calouste Gulbenkian, o retrato e a paisagem são os géneros dominantes nesta coleção, cujos dois maiores colecionadores se destacaram pelo envolvimento político.
Thomas Wentworth (1593-1641), 1.º conde de Strafford, vice-rei na Irlanda, encomendou vários retratos de membros da família e de figuras ligadas ao poder a Anton van Dyck, pintor da corte do rei Carlos I, que marcaria de forma decisiva a arte do retrato em Inglaterra.
Van Dyck - presente nesta mostra com seis óleos - foi autor do seu retrato de corpo inteiro, inspirado numa obra célebre de Ticiano, bem como do retrato dos seus três filhos, obras que estão em destaque nesta exposição.
Charles Watson-Wentworth (1730-1782), 2.º marquês de Rockingham, foi duas vezes primeiro-ministro do partido 'whig', de tendência liberal, e chefe da Câmara dos Lordes, tendo defendido a independência dos Estados Unidos.
"Esta família viveu tempos muito conturbados na Inglaterra, nomeadamente a guerra civil, e sentiu a necessidade de fixar a memória dos seus membros em retrato", comentou Luísa Sampaio.
Esta coleção foi exibida pela última vez em 2006, no Chrysler Museum of Art, em Norfolk, Virgínia, nos Estados Unidos.
As peças da coleção do Museu Gulbenkian exibidas - "Calouste S. Gulbenkian e o gosto inglês" é o título da mostra - são de produção inglesa ou ao "gosto inglês", e muitas delas correspondem aos anos em que o colecionador arménio viveu em Londres e à génese da sua coleção.
Com curadoria de João Carvalho Dias, reúne obras que se encontram habitualmente em reserva, algumas delas nunca mostradas, a que se junta o Retrato de William Keppel, de Sir Joshua Reynolds, pintura oferecida por Calouste Gulbenkian ao Museu Nacional de Arte Antiga, em 1949, e agora cedida para esta exposição.
Calouste Sarkis Gulbenkian formou-se em engenharia e ciências aplicadas em Londres, no King's College, e foi lá que casou e mais tarde fixou residência, acabando por adquirir a nacionalidade britânica em 1902.
A partir da importante praça financeira londrina (tinha escritórios na City, em St Helen's Place), promoveu negócios a nível global e desenvolveu uma rede de contactos com negociantes e especialistas de arte que o aconselharam na compra de obras.
Questionado pela agência Lusa sobre o perfil do gosto de Gulbenkian, João Carvalho Dias indicou que "tinha os seus gostos pessoais, mas comprava sempre muito bem aconselhado porque pensava como um homem de negócios".
Apresentando obras de pintura, escultura, gravura, bem como livros e alguma documentação relevante guardada nos Arquivos e na Biblioteca de Arte da Fundação, esta exposição tem como objetivo conhecer o contexto das opções estéticas do colecionador.
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