"Em nenhum momento podíamos maltratar a própria comunidade, porque estamos aqui para defender a sociedade e garantir que a economia flua da melhor forma possível", referiu o vice-chefe do Estado-Maior General das FADM, Bertolino Capitine, no domingo, durante um encontro com jornalistas em Mueda, Cabo Delgado e citado hoje pela Rádio Moçambique.

"Lamentavelmente, o relatório foi emitido, provavelmente por pessoas que nunca cá estiveram", diss no local.

As acusações feitas pela AI desde 2018, documentadas há seis meses por vídeos que a organização diz ter verificado, voltaram à ribalta na última semana num relatório que compila testemunhos de residentes sob o título "O que Vi foi a Morte: Crimes de guerra no Cabo Esquecido".

A AI conclui que além de rebeldes armados, cuja origem continua por esclarecer, as FADM e o um grupo militar privado da África do Sul contratado pelo Governo moçambicano também são responsáveis por atacarem civis durante os confrontos com os insurgentes.

Mas Bertolino Capitine negou também que Moçambique tenha recorrido aos serviços do Dick Advisory Group (DAG).

"Se alguém tem provas", acrescentou, "é responsável por provar" as alegações.

"Nós somos capazes, temos recursos suficientes para pilotar um avião e não somos novos nessa matéria", concluiu.

De acordo com o novo relatório da AI, operacionais da DAG "dispararam metralhadoras dos helicópteros, lançaram granadas de mão indiscriminadamente contra multidões e dispararam também repetidamente contra infraestruturas civis, incluindo hospitais, escolas e habitações", citando 53 testemunhas.

Para a organização, é responsabilidade do Governo investigar as denúncias, mas, caso o executivo moçambicano as ignore, abre-se espaço para a adoção de mecanismos internacionais.

"Se Moçambique não fizer isso, nós vamos pedir ajuda e justiça internacional", frisou Brian Castner, consultor para a Área de Armas e Operações Militares da AI, num debate realizado na terça-feira, através da Internet, e dedicado ao relatório.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

A violência surgiu em 2017, algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

LFO (LYN/EYAC) // JMC

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