"As perspetivas já eram sombrias antes da crise ucraniana eclodir; fomos ofuscados pela crise em Tigray, pelo Iémen, Afeganistão e agora a Ucrânia parece estar a sugar todo o oxigénio para fora da sala", disse o humanitário da ONU na Somália, Adam Abdelmoula, numa conferência de imprensa na capital do Quénia, Nairobi.

"Visitei várias capitais no ano passado, cinco capitais europeias e Washington, num esforço para voltar a colocar a Somália no mapa", acrescentou, lamentando: "Como se diz na comunidade humanitária, perdemos o 'efeito CNN', por assim dizer", referindo-se à importância de a comunicação social manter as crises no topo da atualidade.

A ONU disse estar "extremamente preocupada" com a dificuldade de mobilização de fundos para os 4,5 milhões de somalis afetados atualmente pela seca, um número maior que os 3,2 milhões registados em dezembro.

Com apenas 3% dos 1,46 mil milhões de dólares (1,23 mil milhões de euros) que a ONU diz serem necessários para satisfazer as necessidades da Somália em 2022, Abdelmoula disse que estava "extremamente preocupado" e apontou: "As projeções indicam que a próxima estação chuvosa em abril poderá também estar abaixo da média, por isso se não agirmos rapidamente, poderemos continuar numa situação extrema até junho", disse o responsável, citado pela agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP).

Na conferência de imprensa, Abdelmoula salientou que "as necessidades são imensas" e apelou "urgentemente aos doadores, às autoridades, à ONU, às Organizações Não Governamentais, aos nossos parceiros, à diáspora e à comunidade empresarial para que intensifiquem a resposta à seca na Somália".

Em 2017, a mobilização humanitária precoce impediu uma situação de fome na Somália, em contraste com 2011, quando 260.000 pessoas - metade das quais crianças com menos de seis anos - morreram de fome ou de doenças relacionadas com a fome.

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