
O coração pode, por vezes, apresentar alterações na sua atividade elétrica, originando o que chamamos dearritmia. A mais comum e clinicamente relevante é afibrilhação auricular (FA).
Nesta condição, o coração bate de forma irregular e descoordenada, especialmente nas aurículas (as cavidades superiores do coração), que deixam de contrair de forma eficaz. Isso favorece aformação de coágulosno interior do coração, que podem ser libertados para a circulação e causar a obstrução de uma artéria. A consequência mais grave é oacidente vascular cerebral (AVC) isquémico, causado pela interrupção do fluxo sanguíneo a uma parte do cérebro.
A FA é uma doença frequente: afeta cerca de2,5% da população portuguesa com mais de 40 anose mais de6% acima dos 60 anos. Esta arritmiaaumenta em cinco vezes o risco de AVC isquémicoe é responsável por cerca deum terço dos AVCs em Portugal. Além disso, os AVCs associados à FA são habitualmentemais graves, com maior risco de incapacidade permanente ou morte.
A FA também está associada a outras complicações graves, como ainsuficiência cardíacae ademência.
Entre os principaisfatores de riscopara o desenvolvimento de FA encontram-se:envelhecimento,hipertensão arterial,diabetes,obesidade,apneia do sono,doenças cardíacas,tabagismoeconsumo excessivo de álcool, entre outros.
Em muitos casos, a FA éassintomática. Quando se manifesta, pode provocarpalpitações(sensação de batimento acelerado ou irregular),tonturas,cansaçoou atédesmaios. O diagnóstico requer a realização de umelectrocardiograma (ECG)ouHolter-ECG(registo contínuo durante 24 horas).
Após o diagnóstico, na maioria dos casos é recomendada atoma de anticoagulantespara reduzir o risco de AVC. Existem também medicamentos e procedimentos minimamente invasivos que ajudam a controlar os sintomas e a prevenir complicações.
Aadoção de um estilo de vida saudávele o controlo dos fatores de risco vascular são fundamentais para prevenir o aparecimento da FA. Em caso de sintomas, procure avaliação médica. Se lhe for prescrito um anticoagulante,não interrompa a terapêutica sem indicação médica.
Autor: João Pedro Marto
Cargo: Neurologista na ULS Lisboa Ocidental e membro da Sociedade Portuguesa do AVC
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