Entre as exceções de combate estão os rebeldes do Exército de Arakan (AA), que opera principalmente nos estados de Rakain (oeste) e Chin (noroeste) e cujo conflito recrudesceu desde janeiro último.
A trégua unilateral declarada pelo Exército birmanês, também conhecido como Tatmadaw, foi anunciada na noite passada e durará até 31 de agosto.
Segundo o comando militar, o cessar-fogo visa concentrar esforços no combate à pandemia da covid-19.
O Tatmadaw, famoso pelas suas táticas implacáveis e acusado de ter cometido incontáveis crimes contra a humanidade, não explicou no seu comunicado as razões pelas quais escolhe continuar a lutar em certas áreas e ameaçou quebrar a trégua noutras regiões se for atacado por guerrilhas étnicas.
Em 23 de março, o Governo designou o AA como uma "organização terrorista", enquanto atualmente apenas um outro grupo rebelde das dezenas que operam na Birmânia é classificado como tal: o Exército de Salvação Rohingya Arakan (ARSA), cujo ataque em agosto de 2017 desencadeou uma campanha militar brutal contra a minoria Rohingya.
O conflito com a AA, criado em 2009 com o objetivo de alcançar maior autonomia para o seu território, recomeçou em novembro de 2018 e provocou 150.000 deslocados e centenas de mortos.
"É difícil colaborar com o Governo devido à escalada do confronto com o Exército no norte do estado de Rakáin", disse à Efe Khine Thukha, porta-voz do exército rebelde Arakan.
Enquanto isso, o AA e outras guerrilhas étnicas aliadas anunciaram um cessar-fogo em março, que expira em 31 de maio, embora os combates tenham continuado.
Um funcionário da ONU radicado na zona de conflito e que pediu para não ser identificado disse à Efe que o Exército birmanês está a recorrer "a métodos cada vez mais brutais" devido à frustração de perder terreno contra o AA.
Nos últimos meses, houve relatos de bombardeamentos dos militares contra populações civis em Rakhain.
"O Tatmadaw parece estar a utilizar a covid-19 como uma oportunidade de perpetuar mais abusos enquanto o mundo está distraído", disse o funcionário da ONU.
A Birmânia iniciou uma transição para a democracia em 2011, depois de quase meio século governada pelos militares.
Em 2015, o partido liderado pela vencedora do Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi ganhou as eleições com promessas de alcançar a paz nacional e iniciar um processo de reconciliação, entre outras.
No entanto, o Exército continua sem alterar as prerrogativas da Constituição que o tornam essencial na política do país, como reservar os ministérios da Defesa, Fronteira e Interior e um quarto dos assentos do Parlamento de duas câmaras, que de facto lhe confere o direito de veto.
Apesar dos esforços para alcançar a paz, mais de uma dúzia de conflitos armados permanecem ativos no país, alguns há mais de quatro décadas, entre os militares e guerrilhas étnicas rebeldes que pedem uma maior autonomia.
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