"Isso é devido a problemas pessoais e familiares. Eu tenho a minha família estruturada, mas fora de São Tomé e Príncipe, tenho alguns problemas pessoais que tenho que resolver e estou convencido que eu vou ter agora tempo e oportunidade para poder olhar para esses problemas e conseguir dar seguimento", disse à Lusa José Cardoso Cassandra, que esta terça-feira abandonou o cargo, sendo sucedido por Filipe Nascimento.

Eleito para um quarto mandato em outubro de 2018, o ex-governante demitiu-se a meio, decisão que levou a várias especulações de que pretendia concorrer ao cargo de Presidente da República de São Tomé e Príncipe nas eleições do próximo ano, facto que refutou.

"As pessoas não podem perceber que trabalhar para São Tomé e Príncipe tem que ser sempre na política ativa, não, não. A minha vida na política ativa vai levar alguma suspensão por esses problemas que eu estou agora a anunciar e futuramente depois ver-se-á", explicou 'Tozé' Cassandra, como é mais conhecido no país.

José Cassandra afirmou ainda que não tenciona concorrer às presidenciais previstas para 2021 porque não quer ser apenas "mais um Presidente".

"Eu não quero ser mais um candidato a perfilar na Presidência da República do meu país. Nós não podemos estar presos às presidenciais, há muita vida para além das eleições presidenciais", referiu, defendendo que os problemas de São Tomé deveriam merecer uma "discussão profunda antes mesmo das eleições presidenciais".

O ex-governante, sublinhou, contudo, que vai estar "sempre com os olhos postos" na política e "disponível para trabalhar" para o seu país, referindo que a possibilidade de regressar à vida política ativa "vai depender muito" da sua situação familiar e da evolução da política interna do arquipélago.

"Os próximos tempos exigem de todos nós mais e melhor por São Tomé e Príncipe. Não basta as pessoas virem anunciar as candidaturas, pois mais do que anunciar as candidaturas devem dizer o que é que pretendem fazer no exercício da Presidência", defendeu.

O problema da falta do emprego, a situação sanitária, saneamento, reforma da justiça são questões para as quais devem ser encontradas soluções partilhadas com o Governo, liderado por Jorge Bom Jesus, sustentou.

"Ele [Presidente da República] pode influenciar a solução desses problemas", disse Cassandra, que defendeu igualmente a redução do efetivo militar e a sua conversão para atividades da marinha e da guarda costeira, uma vez que o território marítimo é 160 maior que o terrestre.

O presidente cessante do Governo Regional do Príncipe despediu-se na terça-feira dos militantes da União para Mudança e Progresso do Príncipe (UMPP), que o colocou no poder, e lamentou não ter levado o seu mandato até ao fim, mas considerou o seu afastamento do poder como "uma vitalidade para o processo democrático no Príncipe".

"O mandato é de facto para quatro anos, entretanto, qualquer um de nós tem problemas na vida e a razão que me levou a terminar o mandato tem a ver com os problemas familiares e pessoais que exigem de nós, de fato alguma atenção, por isso mesmo nós lamentamos esse término neste momento", sublinhou José Cassandra.

"Mas eu julgo que é uma vitalidade para o nosso processo democrático, sobretudo a alternância dentro da UMPP e continuidade na governação do Príncipe, uma transição pacífica e tranquila. Eu julgo que vai enriquecer e solidificar esse nosso processo democrático e autonómico", acrescentou.

Prometeu apoiar o novo Presidente, Filipe Nascimento, e lamentou não ter conseguido executar três projetos que propôs realizar durante os seus mandatos: um porto acostável, deixar a funcionar as energias renováveis e a amarração do cabo submarino à ilha do Príncipe.

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