Duarte Caldeira foi um dos históricos que por mais tempo publicamente deu apoio ao actual líder do PS-M e o benefício da dúvida, mas essa fase agora acabou. O militante socialista reconheceu que os resultados do Partido nas eleições de domingo “foram maus, foram péssimos”, tanto a nível nacional como a nível regional. “É pena que a liderança do PS regional não tome outra atitude”, desabafou, afirmando que Paulo Cafôfo já deveria ter saído em Março. “Continuar assim como está será uma morte lenta do PS, cada eleição que se passa vai piorando”. E defendeu a nível nacional um entendimento entre PS e AD para governação.

Segundo o histórico socialista, a nível regional já era de esperar um mau resultado, porque num ano o partido perdeu na Madeira 11.000 votos. “O Paulo Cafôfo, quando perdeu as edições regionais, apanhou uma grande derrota, na minha opinião, devia ter posto o lugar à disposição dos órgãos do partido. Não o fez, com a desculpa que tinha de preparar o acto eleitoral para a República e o acto eleitoral para as autarquias. Ora, entre Maio e Setembro há tempo suficiente para convocar um congresso e preparar as eleições autárquicas”, declarou, exigindo assim a saída do também deputado e líder do PS na Assembleia Legisçativa da Madeira.

Duarte Caldeira critica o mau desempenho a Ponta do Sol, um concelho governado pelo PS e que não foi além dos 12,5%. “Isto é imperdoável”, afirmou. A seu ver, neste caso já não tem tanto a ver com a liderança como o resto, situação diferente de Machico, onde acredita há “um certo ressabiamento dos órgãos autárquicos”, por não ter ido representantes em lugar exigível na últimas regionais.

À questão se faz sentido manter a actual presidente da Câmara como candidata às autárquicas em Setembro, prefere não se pronunciar, diz que cabe aos órgãos locais do partido dizer quem deverá ser o candidato. “Não somos nós que estamos cá de fora, estamos noutros, vamos dar dicas sobre o que se deve passar no concelho da Ponta de Sol”.

Sobre a questão se Paulo Cafôfo deve pôr imediatamente o seu lugar à disposição, foi enigmático. “Depois da conversa dele ontem, não vale a pena falar nisso. Ele ontem veio dar o mesmo argumento que deu nas anteriores. E, portanto...” Duarte Caldeira admite em jeito de desabafo que não sabe o que se passa com o actual líder socialista do PS-M. “Já tive uma conversa com ele há mais tempo e, enfim, não concordo com aquilo que ele está a fazer. É o que eu posso dizer.”

O empresário, produtor de vinhos, está preocupado também com a subida da extrema-direita, um fenómeno que ultrapassa a realidade do país e que nestas eleições fez com que o PS passasse a terceira força e por outro lado evitou que a AD tivesse a maioria absoluta, analisou. A solução para o país, a seu ver, passa por unir-se contra o inimigo comum num acordo de incidência parlamentar. “O PS e a AD juntos têm a maioria absoluta”, lembrou, defendendo assim um entendimento entre estes partidos para garantir a governabilidade. Espera que a AD “abra os olhos e veja que é mais vantajoso para si própria fazer acordos com o PS do que estar ao sabor da onda”, como descreveu. “Não está em causa qualquer coligação com a AD. O que está em casa é a governabilidade do país”, esclareceu.

Já em relação à demissão de Pedro Nuno Santos, o secretário-geral do partido a nível nacional, diz que outra coisa não seria de esperar. “Tomou posição certa. O resultado foi demasiado mau para continuar no poder”. Este histórico militante diz que houve erros de campanha, como o condenar Montenegro por causa da sua empresa privada. Mas não só. “Houve a cena teatral da doença do Ventura, tudo isso ajudou a que o PS fosse o prejudicado”. Ficou particularmente chocado com a reviravolta em Campo Maior. “Eu penso que o Rui Nabeiro, de Campo de Maior, deve estar a dar voltas na tumba. O Partido Socialista sempre ganhou Campo de Maior. Desta vez ganhou o Chega. Morre o ídolo, imediatamente se muda a votação. Como é que isto é possível”, questiona.