No início de junho, o presidente do Conselho de Administração da RTP, Nicolau Santos, que assumiu o cargo há cerca de um ano, afirmou que provavelmente a RTP vai ter prejuízos este ano, tendo em conta o aumento de custos, a guerra, a que se soma o encargo de 12 milhões de euros do Mundial de Futebol no Qatar, contrato em 2011, mas que só agora vai ser contabilizado.

"Primeira questão, a RTP é uma empresa sustentável, há 12 anos que dá resultados positivos", começa por sublinhar Nicolau Santos, referindo que, "ao contrário do que se possa pensar e a ideia de que todas as empresas públicas dão prejuízo, não é verdade, a RTP há 12 anos que dá resultados positivos e é muito importante que isso seja claro para toda a gente".

Ou seja, o que mudou este ano, em primeiro lugar, foi "um aumento brutal dos custos da energia", aponta.

"Nós tínhamos orçamentado 1,5 milhões de euros de custos de energia, que era mais ou menos o normal e, de repente, somos confrontados com um aumento três vezes superior, passamos para 4,5 milhões de custos de energia só para este ano", contabiliza Nicolau Santos.

Depois, "somos confrontados com uma situação que está a afetar a generalidade das empresas e, sobretudo, aquelas que necessitam muito de equipamentos tecnológicos, que é o aumento a dois dígitos dos fornecedores de tecnologia", pelo que cada contrato de 100 mil euros na RTP, "quando tem um aumento em cima de dois dígitos, obviamente cresce muito a fatura", prossegue.

Além disso, há a guerra na Ucrânia, o que resulta no envio de equipas da rádio e da televisão para fazer a cobertura, o que "oneram claramente o orçamento", diz, ultrapassando os orçamentos que estavam previstos para informação dos dois meios.

Há ainda os aumentos salariais, que estavam previstos, mas que que ainda não está fechado: "Esses aumentos salariais não existem na RTP desde 2019, portanto vai haver este ano".

Sobre o montante, "ainda não podemos precisar exatamente qual será em termos de encargos de aumento da massa salarial para a RTP", refere.

Por último, e não menos importante, está a decisão tomada em 2011 pela administração liderada por Guilherme Costa, "que decidiu comprar a transmissão de todos os jogos do Mundial de futebol do Qatar", que se realiza no final do ano naquele país.

"Esse encargo é de 12 milhões de euros, foi contratado em 2011, mas é este ano que vai ter de ser contabilizado", sublinha Nicolau Santos.

Questionado se o prejuízo da RTP vai ser de um ou dois dígitos, o gestor salienta que está dependente destas várias situações e das medidas que estão a ser tomadas diariamente.

"Nós pedimos, por exemplo, a todos os diretores, a todas as direções para fazer um esforço de cortarem em pelo menos 5% do orçamento que tinham e já temos esses dados", diz, salientando que a empresa está a tentar conter despesas em várias áreas, bem como a sensibilizar a menor utilização de energia.

"Algo que vai pesar aqui claramente é a nossa negociação com os canais privados, com as estações privadas que obviamente não quererão estar a dois meses no final do ano sem nenhum espetáculo desportivo e, portanto, vão seguramente negociar com a RTP para comprar parte deste pacote de 12 milhões que nós comprámos em 2011", pelo que "valor final das contas da RTP em 2022" também decorrerá disso, acrescenta.

Nicolau Santos adianta que este ano "aumentou tudo, não há nada que não tenha aumentado significativamente e esse é um dos problemas cruciais da RTP e que tem a ver com a sustentabilidade da empresa".

O que se tem assistido este ano, com particular relevo, "mas é uma trajetória que vinha sendo seguida, é o aumento constante e consistente dos custos", destaca.

Por exemplo, só pelo Acordo de Empresa, a RTP tem um crescimento "da massa salarial de cerca de 500.000 euros todos os anos", sem aumentos, a que acresce todas as outras despesas.

"Só que este ano as coisas estão a ser mais graves", com a guerra na Ucrânia, os aumentos dos fornecedores de energia, entre outros.

E, em contrapartida, "no lado das receitas", lembra que a empresa está "muito" limitada".

A Contribuição do Audiovisual "está congelada desde 2014 e as nossas receitas comerciais também de algum modo estão limitadas, porque continuamos a ter na RTP1, onde é possível adquirir mais publicidade", um limite de de seis minutos por hora de emissão.

Portanto, "tudo isto leva a que as nossas receitas sejam razoavelmente congeladas e os custos têm vindo a crescer", aponta, considerando que "este caminho não é sustentável" e que "é preciso encontrar soluções".

Ou seja, "é preciso fazer uma profunda reflexão sobre o modelo de financiamento da RTP e sobre o que é que se quer da RTP. E estou a falar do grupo RTP", no seu todo, sublinha.

"Só para se ter uma ideia, os custos e os encargos salariais neste momento já são mais de 50% da Contribuição do Audiovisual. Portanto, não é possível continuar com este caminho sem uma profunda reflexão sobre que RTP queremos no futuro", remata.

Quanto a 2021, "os resultados ainda não estão completamente fechados, mas serão na casa dos 900 mil euros", diz o gestor.

Relativamente aos precários, Nicolau Santos adianta que os trabalhadores que estavam para entrar no âmbito da Comissão de Avaliação Bipartida (CAB) estão resolvidas. Nos últimos quatro anos entraram na RTP 261 pessoas que levaram a que os encargos com pessoal crescessem 10 milhões de euros.

ALU // MSF

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