Uma maioria de 40 deputados elegeu hoje Aniceto Guterres, da Fretilin, numa votação irregular, como novo presidente do Parlamento Nacional timorense, numa sessão plenária convocada pelos vice-presidentes do órgão.

"É triste. Já há dois dias tentei transmitir aos colegas de que é melhor entendermo-nos fora, conversar e ver o que podemos fazer para o parlamento funcionar", disse à Lusa o líder da bancada do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Duarte Nunes.

"Vemos aquilo em que concordamos e o que não concordamos pomos de lado. Para dar a imagem de que o parlamento funciona e não está assim tão mau como as pessoas pensam", considerou.

Duarte Nunes falava à Lusa durante o segundo dia de tensão no parlamento que acabou com uma votação, organizada de forma irregular pela maioria, que votou a favor da sua destituição (36 votos contra) e, posteriormente, elegeu com o apoio de 40 dos 65 deputados Aniceto Guterres para presidir ao parlamento.

 Pelo segundo dia consecutivo, o parlamento timorense viveu momentos de tensão, que se agravaram quando deputados do CNRT viraram ao contrário a mesa do presidente do órgão, tendo sido necessário reforço policial para manter a ordem.

A tensão começou quando a vice-presidente do parlamento tentou ocupar a zona da mesa para abrir o plenário, considerando ter legitimidade para o fazer por o presidente Arão Noé Amaral não ter convocado o plenário.

Vários deputados do CNRT viraram a mesa de Arão Noé Amaral (do mesmo partido) para impedir o início do plenário.

Num cenário de gritos e empurrões, com deputados de vários partidos a subirem à zona da mesa, agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) acabaram por ocupar essa zona da sala.

Sobre a ação dos deputados do seu partido, Duarte Nunes disse que houve empurrões de parte a parte e que "depois começou o barulho" e houve mais tensão, insistindo que se não houver solução o Presidente da República tem de intervir.

"Isto é triste. Também não gosto de ver isto. Temos de ver formas de nos entender. Se não há entendimento então alguém tem que decidir. O Presidente da República tem de decidir", considerou.

"Se o parlamento funciona bem, muito bem, mas agora com estas imagens de dois dias o parlamento já não funciona. O que se faz? O Presidente da República tem de tomar uma decisão", afirmou.

Duarte Nunes reiterou as declarações do presidente do parlamento, Arão Noé Amaral para recusar o debate sobre a sua destituição e insistiu que se há um novo bloco maioritário "então tem de se constituir formalmente como coligação, para depois dar apoio ao Governo que vier".

"Se estão num bloco têm que o formalizar, dar conhecimento disso ao Presidente da República e dizer que estão prontos para apoiar um novo Governo", afirmou.

"Se for assim, muito bem, o presidente do parlamento concorda. Faz-se agenda e a eleição e quem ganhar ganha. Porquê não fazer isso", questionou.

Duarte Nunes considerou que as acusações mútuas, incluindo na justiça, não servem para resolver o problema.

"Andar a acusar de um para o outro lado, a gritar de um lado para o outro, não vamos para nenhum lado. É melhor fechar isto, não ter esta sala para isto quem nem sei o que é. Falemos lá fora, bancada a bancada", disse.

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