
"A China está preocupada com a evolução da situação na Ucrânia", disse Wang Yi, durante uma conversa por telefone com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
Wang reiterou que a posição da China sobre o assunto "não mudou" e que as preocupações com a "segurança de todos os países devem ser respeitadas".
As declarações de Wang constam na transcrição do diálogo divulgada pelo Departamento de Estado norte-americano. Um comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China não faz referência à Ucrânia.
"O facto de a crise na Ucrânia ter evoluído para este estágio está relacionado com o atraso na implementação dos Acordos de Minsk", disse Wang, referindo-se aos protocolos assinados, em 2014 e 2015, cujas cláusulas excluíam o destacamento de formações armadas - incluindo da NATO -, equipamentos e mercenários estrangeiros no país.
"A China continuará a ter atenção aos factos e a manter o contacto com todas as partes", afirmou Wang.
Pequim "pede a todas as partes que se contenham e que reconheçam a importância universal da segurança para todos, e diminuam as tensões por meio do diálogo", reforçou.
A conversa por telefone entre Wang Yi e Antony Blinken aconteceu após o Presidente russo, Vladimir Putin, ter assinado, na segunda-feira à noite, o reconhecimento das repúblicas separatistas de Lugansk e de Donetsk, na região ucraniana oriental do Donbass, como entidades independentes.
De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (EUA), Ned Price, Blinken ressaltou a "necessidade de preservar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia".
Durante uma conferência de imprensa, na terça-feira, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, afirmou apenas que o "interesse de segurança de todos os países deve ser respeitado e protegido".
"A China continuará em contacto com todas as partes", apontou Wang Wenbin.
Segundo o comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi pediu a Blinken que o "confronto não defina as relações" entre a China e os EUA, observando que algumas autoridades norte-americanas "defendem uma competição acirrada e de longo prazo" com o país asiático.
Esta situação pode transformar-se num "confronto a todos os níveis" entre os dois países, disse.
Wang referiu-se à estratégia dos EUA para o Indo-Pacífico, anunciada este mês pela Casa Branca, documento que alertou para os "desafios apresentados pela China" nos campos económico, militar, diplomático e tecnológico.
O texto, que mencionou o "apoio às capacidades de defesa de Taiwan" por parte dos EUA, é um "sinal errado de contenção da China" e aponta para uma estratégia de "usar Taiwan para controlar a China", acusou Wang.
O chefe da diplomacia chinesa instou os EUA a "tomarem medidas concretas", que reflitam "os compromissos assumidos" pelo Presidente norte-americano, Joe Biden.
Por ocasião do 50.º aniversário do Comunicado de Xangai, em que Washington reconheceu o princípio 'Uma só China' - segundo o qual Pequim é o único Governo chinês -- Wang Yi explicou que o documento "ainda tem um forte significado prático para as relações sino-americanas".
Blinken assegurou a Wang que os Estados Unidos não estão à "procura de se envolver numa nova Guerra Fria" ou "mudar o sistema [de governação] da China".
O secretário de Estado norte-americano reiterou a oposição do seu país à independência de Taiwan, segundo o comunicado chinês.
No sábado passado, Wang Yi apelou para que não se retome a uma "mentalidade da Guerra Fria" no contexto de tensões em torno da Ucrânia, reiterando que a posição da China é que a "soberania, integridade territorial e independência" dos países "devem ser protegidas", e que a Ucrânia "não é exceção".
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