O 'banho' é tradicionalmente um tema nas campanhas políticas são-tomenses, com a classe política, de forma geral, a condenar esta prática, mas a população continua a relatar a entrega de dinheiro -- o equivalente a cinco, dez euros -- em troca de voto nas urnas, que normalmente confirmam fotografando o boletim após o voto.

Na última semana da campanha para as presidenciais do próximo domingo, o tema foi trazido pelo Presidente cessante, Evaristo Carvalho, que condenou este ato, que explora "a pobreza do cidadão", e que considerou "imoral e indecoroso".

Questionado pela Lusa à margem de uma ação de campanha, Delfim Neves disse partilhar dessa preocupação, mas advertiu que a ação política em São Tomé e Príncipe não é marcada pela "lisura ou decência".

"Os presidentes 'sortant' [de saída] podem dizer tudo. Não têm nada a perder ou a ganhar. Se a gente recuar um pouco no tempo e ver como é que os outros presidentes foram eleitos, como é que alguns partidos políticos foram eleitos, e nós a debater o fenómeno do banho, chamavam-nos de pobre. Diziam que era partido pobre, não tem dinheiro, pessoas 'cains', quer dizer mão de vaca. E hoje, que fazemos inverso, ai ai ai, já não é pobre", criticou.

"Nós não estamos a dar banho, estamos a aplicar o dinheiro na pobreza, nas pessoas que precisam. A covid trouxe muita dificuldade, e nós sabíamos que para vir encontrar o povo um pouco mais alegre, era preciso dar-lhe alento. A isto não se chama banho. Dar comida às pessoas é banho?", exemplificou.

A candidatura de Delfim Neves, também presidente da Assembleia Nacional, tem distribuído, nos últimos dias, cabazes de alimentos à população.

Entregar dinheiro diretamente, isso o candidato garantiu que não faz.

"Se eu pagar o aluguer de uma viatura estou a dar dinheiro? Se eu pagar músicos, estou a dar dinheiro? Eu nunca dou dinheiro em mão", afirmou.

Delfim Neves ressalvou que a prática é generalizada: "Eu não estou a fazer nada diferente do que os outros estão a fazer. Só que eu estou a aplicar de forma diferente", comentou.

"Eu estou contra o banho, mas quando houver lisura na política. Quando se fizer uma política com decência, eu estarei presente. A política que se faz em São Tomé não tem nenhuma lisura, não tem nenhuma decência", referiu o candidato.

Por outro lado, Delfim Neves advertiu para a eventualidade de fraude eleitoral na votação do próximo domingo, a que concorrem 19 candidatos.

"O receio que tenho hoje, digo com muita propriedade, é de fraude eleitoral, sobretudo nas mesas de voto, porque esta proliferação de candidaturas não é normal num país de 200 mil habitantes e 115 mil eleitores", disse.

Segundo a lei, em cada mesa de voto apenas estarão cinco representantes das candidaturas.

"É uma estratégia (...) Há muitas mesas onde determinados candidatos não estão. É lá que se vai fazer festa, mas o povo não vai aceitar", comentou.

Sobre a sua candidatura, quando restam dois dias para o fim da campanha, Delfim Neves reiterou o seu objetivo: "unir os são-tomenses".

"O país está muito crispado politicamente, não se consegue desenvolver um país com uma sociedade tão dividida", afirmou, considerando que os políticos transmitem "uma mensagem de ódio".

"Em São Tomé não há uma oposição, há sim inimigos, quando na política não é isso que deve acontecer", referiu, acusando líderes partidários e dirigentes de apenas passar a sua mensagem "pela mentira, pela injúria e pelo ódio".

Delfim Neves tem reiterado que nos últimos anos foi alvo deste "ódio" e que foi "perseguido seis anos a fio", nomeadamente com casos na justiça denunciados por partidos políticos.

Para superar esta divisão, o candidato propõe "reunir todos os líderes políticos, inclusive os ex-presidentes da República", para se traçar um rumo e fazer chegar o navio a bom porto.

Dezanove candidatos concorrem às eleições presidenciais são-tomenses no próximo domingo.

 

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