"Digo a todas as meninas em Timor-Leste: vocês não estão sozinhas. Têm o direito de estar seguras quando estão online. Não há lugar a abuso e abusadores", disse à Lusa a diretora da Plan International em Timor-Leste, Dillyana Ximenes.

A responsável da organização, que luta pelos direitos das crianças, falava à Lusa na véspera do lançamento em Timor-Leste de uma campanha internacional que visa pressionar as redes sociais para o problema do abuso e assédio online de meninas.

"Há muita gente aqui, ao mais alto nível, preocupada com esta questão. Sabemos que podemos fazer algo e que em conjunto com as meninas podemos denunciar casos. As redes sociais também podem atuar e por isso é importante que o Governo introduza leis fortes sobre esta questão", afirmou.

Ximenes destacou a importância de atuar no apoio às vítimas, pedindo às famílias e amigos para ajudarem as meninas a denunciar o abuso.

"Digo aos pais, colegas e amigos que este é o momento em que temos que discutir estas questão na família, a começar por conversas sobre saúde sexual e reprodutiva, com base na idade e de exercer parentalidade positiva", afirmou.

"Não culpar a criança, mas estar ao seu lado, ouvir o que dizem. As meninas e meninos que são vítimas precisam de falar e temos que as ouvir", afirmou.

"Na nossa cultura há a questão da vergonha. Mas chegou a altura de mudar isso e apoiar as vítimas, para que possam ter o poder de falar e para que não estejam sós nesta questão. Este é um problema global", sublinhou.

A campanha Girls Get Equal -- que usa os hashtags #FreeToBeOnline, #IDG2020 e #LabarikFetoHoIgualdade (igualmente para as meninas) -- centra-se numa carta aberta aos responsáveis das principais redes sociais (Instragram, Facebook, TikTok e Twitter) para que ajudem a combater abuso online.

"As nossas investigações mostram que as meninas e raparigas são mais vulneráveis, em quase todos os níveis, no que toca a gozar dos seus direitos e que, por isso, precisam de particular apoio", explicou Ximenes.

A campanha baseia-se num inquérito a mais de 14 mil meninas em 41 países que mostra que mais de 50% sofreram abuso ou assédio online.

Ainda que dados concretos sobre a prevalência de casos em Timor-Leste não seja conhecida, já houve investigações policiais e até uma detenção por casos de abusos e assédio online que foram denunciados.

A campanha inclui um vídeo que apela à intervenção urgente das redes sociais para ajudar a combater e parar este tipo de abusos.

"Pedimos que trabalhem connosco para acabar com o abuso nas vossas plataformas. Adoramos as plataformas e são uma parte grande da nossa vida, mas não são seguras para nós", refere a campanha.

"Somos assediadas e abusadas todos os dias. Somos fisicamente ameaçadas, racialmente abusadas, sexualmente assediadas e alvo de estigma pelos nossos corpos. A violência online é seria. Causa danos reais e está a silenciar as nossas vozes", nota.

Considerando que é necessário "deixar de normalizar a violência online" e saudando algumas medidas já tomadas pelas redes sociais neste sentido, a campanha defende mais ações para proteger eventuais vítimas.

Criado em 1937 durante a Guerra Civil em Espanha, a Plan International está atualmente presente em 85 países, entre os quais Timor-Leste, onde começou a operar em 2001.

Dedicada à advocacia e proteção na área de direitos das crianças, e dada a vulnerabilidade particular de meninas em várias áreas da sociedade, a organização conseguiu que 11 de outubro fosse declarado Dia Internacional das Meninas.

 

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