"Está aí um aventureiro, um fugitivo, que não deu nem quilo de arroz durante quatro anos, está a prometer o que não tem. Não acreditem, é tudo mentira. Quem assinou o arroz e quem tem arroz, o carregamento vai chegar em novembro, é este Governo", afirmou hoje o líder do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), Jorge Bom Jesus, referindo-se ao antigo primeiro-ministro e candidato da Ação Democrática Independente (ADI, oposição), Patrice Trovoada, que prometeu baixar o preço do arroz, base da alimentação dos são-tomenses.

Bom Jesus falava perante centenas de apoiantes em Alma e depois em Praia Melão, perto da capital são-tomense, no último dia de campanha, que dedicou ao distrito de Água Grande, com passeatas e comícios em várias localidades.

Sobre a promessa de Patrice Trovoada de baixar o preço do arroz, atualmente em 28 dobras (1,15 euros), o líder do MLSTP classificou-a de "leviana".

"Essas declarações são inverdades, são falaciosas, muito levianas. Um senhor que esteve ausente durante quatro anos, que não mandou nenhuma máscara, nem um quilo de arroz, nem um quilo de milho, não pode ter autoridade", sustentou, em declarações à Lusa.

Jorge Bom Jesus esclareceu que o Japão vai doar duas mil toneladas de arroz, que chegam ao país em três tranches a partir de novembro, e uma parte será abrangido pelo chamado programa cheque-arroz, que vai "beneficiar prioritariamente e em jeito de donativo mais de 25 mil famílias vulneráveis para atenuar o custo de vida".

No seu primeiro comício depois de chegar ao país, no domingo passado, Patrice Trovoada afirmou que a maior urgência do país é a fome, declaração que o seu adversário repudiou hoje.

"A natureza foi muito generosa e nós temos tudo aqui para os escassos 200 mil habitantes, não temos fome. Isto eu posso dizer oficialmente", comentou Bom Jesus, recordando que o Governo lançou um programa para fomentar a agricultura "para garantir a autossuficiência alimentar e nutricional".

"Alguém que ficou tanto tempo ausente não pode ter autoridade, muito menos legitimidade para vir falar da fome", reforçou.

No seu discurso, o candidato do MLSTP/PSD recordou programas de apoio social, como o que é dirigido a 16 mil famílias e que, anunciou, "vai ser reforçado e alargado". Outros exemplos de medidas do seu executivo foram o aumento do salário mínimo para o dobro, 2.500 dobras (cerca de 100 euros) e a subida da pensão dos idosos.

Bom Jesus anunciou ainda a intenção de criar 10 mil empregos com "projetos estruturantes", como a requalificação da estrada entre o aeroporto e Pantufo", na capital são-tomense, o porto de águas profundas em Fernão Dias, a remodelação dos portos da baía de Ana Chaves e do Príncipe ou o alargamento da pista do aeroporto internacional.

"Mais bolsas de estudo, mais bolsas profissionais. Vão poder ir para a 'Tuga' também, passear e estudar", afirmou, recebendo aplausos dos apoiantes.

Sobre a eleição do próximo domingo, Jorge Bom Jesus apelou aos são-tomenses para que "apareçam, saiam de casa e votem de forma ordeira", salientando: "Nós não queremos confusão".

Quanto à campanha eleitoral que hoje termina, fez um balanço "altamente positivo".

"A população é inteligente, já madura politicamente, e entende a mensagem, entende os sacrifícios que nós fazemos e que no fundo do túnel há esperança para melhores dias através de projetos estruturantes", comentou.

Uma caravana de carros, camiões apinhados, motos e muitas pessoas a pé percorria hoje à tarde, sempre com música e a dançar, as distâncias entre as várias localidades em redor de São Tomé, onde a campanha terminava esta noite, com um comício na Praça da República.

Com t-shirts, bonés, aventais e bandeiras onde se podia ler o lema da campanha de Jorge Bom Jesus, 'Kêlê!' (acreditar, em crioulo forro), os simpatizantes cantavam "oitooooooo", a posição em que a candidatura do MLSTP/PSD surge no boletim de voto.

"Quatro mais quatro, oito" e "mais quatro anos", repetia Bom Jesus, ecoado pelas centenas de apoiantes.

Ao longo do percurso, alguns simpatizantes da ADI concentravam-se junto à estrada e assobiavam, enquanto rasgavam cartazes do MSLTP/PSD.

A campanha para as eleições legislativas, autárquicas e regional do Príncipe terminou hoje oficialmente às 18:00 locais (mais uma hora em Lisboa), mas mais de uma hora depois, nem Jorge Bom Jesus, na capital, nem Patrice Trovoada, na região autónoma do Príncipe, tinham começado os discursos de encerramento.

No domingo, 11 partidos e movimentos, incluindo uma coligação, concorrem às eleições legislativas de São Tomé e Príncipe, no mesmo dia em que são eleitos os presidentes das autarquias e o governo regional do Príncipe.

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