"Algum do trabalho [de investigação] atual foca-se na estimação dos efeitos das políticas de mitigação das alterações climáticas. Outros trabalhos em curso abordam a intensidade carbónica da economia portuguesa, com base nas matrizes 'input-output'", disse fonte oficial do regulador bancário à Lusa, quando questionada sobre as iniciativas promovidas no âmbito das alterações climáticas.

A mesma fonte indica que "os resultados deverão ser conhecidos ainda este ano", dando conta que outros trabalhos estão a ser desenvolvidos neste âmbito.

A instituição liderada por Mário Centeno recorda estar a trabalhar com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e outras quatro entidades nacionais e estrangeiras - a Direção-Geral do Território, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e o Diretorado Norueguês de Proteção Civil - num projeto para avaliar a vulnerabilidade do território nacional às alterações climáticas no século XXI, cujos resultados deverão ser apresentados até ao final de 2023.

"Sobre o Banco [de Portugal] recai a responsabilidade de avaliar os efeitos das alterações climáticas e das respetivas medidas de mitigação em variáveis como o PIB [Produto Interno Bruto], o consumo, o investimento e o emprego. Esta análise terá por base um conjunto de modelos económicos desenvolvidos no Banco e beneficiará do trabalho realizado por outros membros do projeto", explica o supervisor.

Numa vertente mais financeira, assinala que existem estudos em curso sobre os custos da transição energética ou as respostas das empresas a eventos extremos, cujos resultados deverão ser conhecidos ao longo de 2023.

"Nos próximos anos, o tema ganhará ainda mais relevância na investigação feita no Banco", antecipa.

No que toca a indicadores, o BdP não divulga informação regular sobre alterações climáticas, mas sublinha que "tem vindo a incorporá-las progressivamente nas suas análises".

"Paralelamente, o Laboratório de Investigação em Microdados do Banco de Portugal (BPLIM) está a avaliar a possibilidade de incluir dados climatológicos com localização geográfica nas suas bases de dados de empresas. Isso permitiria a realização de estudos com ênfase local sobre as interações entre o clima e a atividade das empresas", refere.

O regulador recorda ainda que a nível internacional, o Fundo Monetário Internacional "lançou um 'dashboard' de indicadores sobre alterações climáticas que abrangem quatro dimensões: produção; consumo e procura final; financiamento; políticas do governo".

"Trata-se de uma iniciativa desenvolvida em cooperação com diversas organizações internacionais (e.g. OCDE, Banco Mundial, Comissão Europeia) e tem por objetivo a disseminação de estatísticas harmonizadas que permitam comparações entre países. Essa será porventura uma fonte viável de dados relativos às alterações climáticas e à economia", acrescenta.

Recentemente, em 02 de fevereiro, um estudo de economistas do BdP assinalava que as questões do reporte ligadas à sustentabilidade levantam dúvidas de implementação e eficácia e o uso de subsídios pelo sistema financeiro à energia verde pode ter efeitos contraproducentes.

No 'occasional paper' "Alterações climáticas e economia: uma introdução", os economistas do BdP mostram-se céticos entre a eficácia das medidas dirigidas ao setor financeiro para mitigar o impacto das alterações climáticas e aquelas que têm sido as diretrizes para o sistema financeiro, nomeadamente as medidas anunciadas na estratégica de política monetária do Banco Central Europeu.

"O primeiro passo na análise de medidas dirigidas ao sistema financeiro deve passar por identificar as falhas de mercado às quais estas podem responder", referia o 'paper' assinado por Bernardino Adão, António Antunes, Miguel Gouveia, Nuno Lourenço e João Vale e Azevedo.

No estudo, cujas opiniões não vinculam o BdP, os economistas identificaram como falhas as insuficiências no reporte de informação sobre os efeitos ambientais de determinadas indústrias ou empresas e sobre a sua suscetibilidade às alterações climáticas, "que podem gerar um escasso reconhecimento do risco que lhes está associado, e consequente excessivo investimento", bem como "externalidades de determinadas atividades, que serão negativas se gerarem emissões de GEE [Emissões de Gases com Efeito de Estufa] demasiado elevadas face ao que seria socialmente desejável" e "positivas no caso de investimento demasiado baixo em desenvolvimento e adoção de tecnologias de energias renováveis, caracterizadas por ganhos na produção em massa ou economias de rede".

A presidente do BCE, Christine Lagarde, tem considerado as alterações climáticas como um dos principais riscos para a economia e para o setor bancário nos próximos anos e aquando da revisão estratégica a instituição decidiu integrar novos critérios relativos ao clima na sua política, nomeadamente no que se refere à compra de ativos.

Segundo um estudo do BCE publicado no fim de setembro do ano passado, sobre o conjunto da economia, a inação de governos e de empresas no domínio do clima pode causar uma perda significativa do PIB no longo prazo na zona do euro.

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