"O risco mantém-se apesar de não termos casos novos há vários dias e por isso a vigilância e as medidas têm que continuar", disse à Lusa Sérgio Lobo, um dos porta-vozes do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC), criado pelo Governo para acompanhar a situação da epidemia.

Lobo admitiu que, apesar de estar regularmente nos meios de comunicação e nas redes sociais, a "campanha de sensibilização não tem sido efetiva" e que os comportamentos das pessoas estão a causar riscos adicionais.

"Temos que continuar a cumprir as medidas de higiene, de distanciamento. Não há certeza de que o perigo já passou", destacou.

Sérgio Lobo referiu-se ao receio de entradas clandestinas nas fronteiras terrestres, apesar de estarem fechadas e sob um apertado controlo das forças de segurança.

"Dizem-nos que essa situação está controlada, mas não acredito 100% nisso e há pessoas que entram clandestinamente. Por isso se têm que manter os controlos, principalmente porque não há certeza absoluta sobre se há ou não mais casos", afirmou.

Timor-Leste registou 24 casos da doença desde o início da epidemia no país, incluindo sete casos ativos. Agora, as autoridades estão a começar alargar os testes a nível nacional, vigiando ainda doentes com problemas respiratórios agudos que se apresentem nos postos de saúde.

"Se calhar é preciso medidas adicionais para que as pessoas cumpram o que está definido no estado de emergência e as recomendações de saúde. Parte do problema é que não temos pessoal da polícia suficiente para controlar tudo, e por isso temos que arranjar outros mecanismos, eventualmente recorrendo a voluntários", disse.

Praticamente desde o início, na semana passada, do segundo período do estado de emergência que se tem visto um aumento significativo do movimento em Timor-Leste, especialmente na capital.

Uma tendência que se intensificou, em particular, depois do Governo ter autorizado os transportes públicos a retomarem os serviços, ainda que com medidas de prevenção e higiene.

O número de pessoas na rua, sem observar a distância social, ou sem máscaras, tem vindo a aumentar.

Equipas da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) estão no terreno a tentar garantir o cumprimento das medidas, ainda que Sérgio Lobo tenha admitido que faltam agentes para chegar a todo o lado.

Por outro lado, residentes relataram alguma confusão na aplicação das medidas por agentes da PNTL ao exigirem, por exemplo, o uso de máscaras para quem utiliza carro, quando essa instrução se aplica apenas em viagem em motos.

Descreveram também situações em que agentes obrigaram infratores a fazer flexões no meio da rua, o que pode constituir uma violação dos direitos dos cidadãos.

Paralelamente, Sérgio Lobo admitiu que alguns funcionários da linha da frente do combate à covid-19 estão descontentes com os valores de um suplemento de risco aprovado pelo Governo.

Este suplemento remuneratório varia entre cinco e 25 dólares norte-americanos (entre 4,6 e 23 euros), por cada dia de trabalho efetivo do beneficiário, durante a vigência do estado de emergência, de acordo com o grau de risco a que os funcionários estejam expostos, indicou o executivo, em comunicado.

"Há muitas pessoas descontentes (...) O problema é que isto só foi aprovado muito depois das pessoas começarem a trabalhar. Devia ter sido aprovado antes", disse.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 260 mil mortos e infetou cerca de 3,7 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

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