Num comunicado enviado à agência Lusa, as sete associações, provenientes de várias regiões de Portugal, sublinham que, com este tipo de acontecimentos, "fica claro que o negacionismo por uma parte de setores partidários do nosso espetro político cai por terra".

"O assédio, o acosso, a violência psicológica de movimentos identitários de extrema-direita cada vez mais organizados em Portugal e no resto da Europa, ganharam força e espaço num país que se diz de brando costumes, tolerante e de direito", lê-se no documento.

O comunicado é assinado pelas associações Letras Nómadas - Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas, Associação Cigana de Coimbra, Ribaltambição, Sílaba Dinâmica, Gente Virtuosa (de Castelo Branco), Sendas, Pontes (de Torres Vedras) e Costume Colossal.

"Há que haver coragem política e do poder judicial para identificar os autores e líderes morais de toda esta vergonha. Não podemos escamotear a situação, temos de olhar para a casa da democracia com muita atenção e fazer a conexão para os últimos acontecimentos racistas em Portugal. É grave e está aos olhos de todos!", acrescenta-se no comunicado

As sete associações questionam-se sobre como se pode suportar, "em nome da liberdade de expressão", o aumento de fenómenos racistas.

"Não podemos encarar como situações pontuais. É um sinal que, doravante, o nível de violência irá aumentar. Há que haver coragem e chamar os bois pelos nomes. Estes movimentos de supremacia branca já existiam, sim, mas o palco para estas vergonhas tem sido acontecido a quem sai à rua para negar e confrontar o racismo que, infelizmente, existe e resiste neste país", termina-se no documento.

Pelo menos duas universidades, a Católica e o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, e várias instituições de ensino secundário em Lisboa e Loures foram vandalizadas sexta-feira com frases racistas e xenófobas.

A Universidade Católica Portuguesa já avançou com uma denúncia ao Ministério Público.

Na sexta-feira, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, repudiaram as mensagens no Parlamento, considerando-as "um nojo" e escritas por "tristes".

Tiago Brandão Rodrigues começou por classificar de "tristes" quem escreveu as mensagens para depois saudar todos os alunos que rejeitaram tais atitudes.

"Hoje [sexta-feira], tristemente, aqui em Lisboa, uns tristes resolveram pichar escolas com frases racistas, xenófobas, e foi de coração cheio, e também com um olhar atento, tanto como ministro como cidadão, que vi os alunos daquelas escolas responderem de forma imediata, com rejeição imediata, a este insulto à sua condição de cidadãos, todos eles da República Portuguesa ou migrantes que vivem cá, e todos eles repudiaram automaticamente aquilo que estava a acontecer", salientou o ministro.

Tiago Brandão Rodrigues saudou estes alunos por terem dado "a melhor lição" e serem "a melhor prova de que o exercício pleno de cidadania democrática é sempre a melhor obra" que se pode doar às novas gerações.

"Eu gostava de deixar aqui - e sei que me acompanham, todos - a minha homenagem a estes estudantes e a estas comunidades educativas, quer sejam do ensino básico, secundário e universitário, porque são eles que todos os dias nos dão lições a nós. Só temos de agradecer as lições que nos dão", concluiu.

Também o secretário de Estado repudiou as atitudes racistas, considerando-as um "ato de cobardia e fraqueza".

"A mim só me mete uma coisa: nojo. E este nojo só contrasta com a vitalidade", sublinhou João Costa, lembrando que os alunos das instituições em causa se recusaram a entrar nas escolas e que "foram eles próprios pintar" e assim apagar as mensagens.

JSD (SIM/MYCA) // MCL

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