
Um armazém do Programa Alimentar Mundial (PAM) foi hoje saqueado por uma multidão de palestinianos em Deir el-Balah, no centro de Gaza, revelou o organismo da ONU, em divergência com Israel sobre a entrega de ajuda no enclave.
De acordo com imagens da agência France-Presse (AFP), foram ouvidos tiros e a multidão não deixou nada para trás, levando sacos de comida, paletes de madeira e tábuas.
"Uma multidão de pessoas famintas invadiram o armazém [...] em busca de alimentos que tinham sido pré-posicionados para distribuição", revelou o PAM em comunicado, insistindo no "acesso humanitário seguro e irrestrito para permitir distribuições imediatas e ordenadas de alimentos" na Faixa de Gaza.
No comunicado, o PAM refere ainda que está a tentar confirmar os relatos de duas mortes e vários feridos durante o incidente.
"O PAM tem alertado consistentemente para a deterioração da situação (...) e para os riscos representados pela limitação da ajuda humanitária a pessoas famintas que necessitam desesperadamente de assistência", acrescentou.
Israel acusou hoje a ONU de tentar bloquear a distribuição de ajuda no território devastado por 600 dias de guerra, enquanto a ONU insistiu que estava a fazer tudo o que era possível para recuperar as limitadas quantias autorizadas pelas autoridades israelitas.
O Exército israelita revelou hoje à noite que entraram na Faixa de Gaza 121 camiões que transportavam farinha e alimentos pertencentes à ONU e a outros grupos humanitários.
A maior parte da carga ainda não chegou à população civil, de acordo com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
O OCHA alertou hoje, em comunicado, que, desde a semana passada, cerca de 800 camiões foram autorizados a entrar em Gaza, mas pouco mais de 500 deles chegaram ao lado israelita de Kerem Shalom e apenas a carga de pouco mais de 200 camiões chegou ao lado palestiniano devido a "condições de segurança e restrições de acesso".
O gabinete denunciou ainda que as autoridades israelitas continuam a rejeitar as tentativas das organizações humanitárias de coordenar os movimentos em Gaza, incluindo uma operação planeada hoje para recuperar combustível em Rafah.
A Faixa de Gaza, com uma população de cerca de 2,1 milhões de habitantes, foi sujeita a um bloqueio de ajuda (alimentos, medicamentos e outros bens básicos, como combustível) durante quase três meses, até que Israel permitiu o acesso limitado a bens na semana passada.
Israel iniciou há uma semana e meia uma nova operação terrestre e aérea no território, após ter quebrado em meados de março o cessar-fogo em vigor com o grupo Hamas.
O enviado dos Estados Unidos Steve Witkoff indicou que apresentará hoje uma nova proposta para um acordo de tréguas entre Israel e o grupo palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, manifestando confiança de que será aceite.
O conflito foi desencadeado pelos ataques liderados pelo grupo islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e mais de duas centenas de reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 54 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.