"Adotar uma medida para todos pode não ser realista e ter consequências nefastas, porque nem todos estão no mesmo contexto", disse a ativista Fátima Mimbire, ao comentar a terceira prorrogação do estado de emergência no país, com alívio de algumas restrições.

Fátima Mimbire, membro do Fórum de Monitoria do orçamento (FMO), apontou como exemplo o reinício das aulas na província de Nampula, norte do país, a mais afetada pela pandemia, considerando que o risco não pode ser equiparado à implementação da mesma medida no Niassa, onde o número de infeções registadas é baixo.

"A província de Nampula não tem condições para abrir escolas", acrescentou.

Por outro lado, muitas escolas "não têm água. Nem em casa há higiene, nas instituições públicas há medidas 'ad hoc', não regulares", notou.

Do total de casos ativos, a maioria está no norte do país, nas províncias de Nampula e Cabo Delgado.

Estas são também as províncias que registam maiores taxas de resultados positivos face a testes realizados.

O mesmo pensamento é partilhado pelo analista político Juma Aiuba, que entende que deve haver soluções à medida, pois as realidades são distintas.

"Acho que se deve ver quais são as zonas em que dá para fazer alguns desbloqueios, onde o comércio pode fluir" sem prejuízos maiores para as medidas de prevenção, disse.

No caso de Nampula, onde reside, Juma Aiuba considera que por ser uma zona de influência da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, as populações podem ter maior desconfiança em relação às medidas das autoridades.

Por outro lado, é uma zona com altos índices de analfabetismo e vulnerável a boatos.

"Dizer [às populações] que não podemos ir a feiras vender o nosso produto, mas podemos ir à escola, vai reforçar o boato de que é uma 'doença inventada'", disse, sugerindo que sejam dadas mais explicações à população.

O jornalista e analista Fernando Lima acredita que cada província vai ter o seu conjunto de medidas.

"Em função da evolução, as autoridades decretarão medidas muito especificas para determinadas zonas sobre situações de confinamento e circulação interdistrital e provincial", referiu.

Por outro lado, a disponibilidade de testes rápidos para controlar a evolução da pandemia em determinadas áreas ao longo do país pode ajudar a um alívio das medidas em termos gerais, privilegiando os locais mais sensíveis.

Para o jornalista, a abertura das escolas é possível pois o Governo moçambicano recebeu apoio do Fundo Monetário Internacional no valor de 309 milhões de dólares (275 milhões de euros).

"O Governo pode usar esse fundo para que as escolas tenham melhores sistema de abastecimento de água para que as crianças tenham uma higiene mínima", acrescentou.

Moçambique tem 883 casos acumulados de covid-19, com seis mortes e 229 recuperados.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 502 mil mortos e infetou mais de 10,20 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

RYR // VM

Lusa/Fim