Num relatório, a AI acusou Pequim de intimidar, através de telefonemas ou mensagens feitos pelas embaixadas chinesas, mas também usando familiares de uigures exilados que permanecem na região de Xinjiang, no extremo noroeste do país, onde se estima que mais de um milhão de membros de minorias étnicas de origem muçulmana são mantidos em campos de doutrinação.

A investigação revelou que 181 dos entrevistados foram ameaçados após denunciarem a situação dos uigures em Xinjiang. Vinte e um disseram que as autoridades chinesas usaram algum aplicativo de mensagens instantâneas para os intimidar e 39 receberam chamadas intimidatórias.

Vinte e seis disseram que lhes foi proposto trabalharem como informantes para os serviços chineses.

O relatório da AI é baseado em entrevistas e pesquisas realizadas entre setembro de 2018 e setembro de 2019, com "cerca de 400 uigures, cazaques e uzbeques e outros membros de minorias étnicas chinesas, residentes em 22 países nos cinco continentes".

"Mesmo fugindo de Xinjiang, os uigures e outras minorias não estão seguros", apontou Patrick Poon, pesquisador da organização. "O Governo chinês encontra sempre forma de os localizar, intimidar e até tentar levá-los de volta para Xinjiang, recorrendo à pressão sobre outros governos para que sejam deportados", disse.

Entre os casos denunciados pela organização, um uigur chamado Yubus Tohti, que estava no Egito a estudar, foi contactado pela polícia chinesa por meio do aplicativo de mensagens WeChat, visando obter informações pessoais.

Tohti fugiu mais tarde para a Turquia e depois para a Holanda. Meses depois, o seu irmão, residente na Turquia, recebeu também mensagens da polícia de Xinjiang.

"Ele foi informado de que a polícia estava com os seus pais e que ele teria de retornar a Xinjiang, o que entendeu como uma ameaça velada à segurança da sua família", explicou.

Tohti acabou por perder o contacto com a família e não tem conhecimento do seu paradeiro.

Várias organizações de defesa dos Direitos Humanos denunciaram a campanha, iniciada em 2017 pelo Governo chinês, de detenção arbitrária de mais de um milhão de uigures e membros de outras minorias de origem muçulmana em Xinjiang.

Os detidos são mantidos em centros de doutrinação que Pequim designou como "centros de vocação profissional", que alegou serem uma contribuição para a luta contra o terrorismo global.

No entanto, depoimentos de ex-detidos e documentos oficiais divulgados à imprensa revelaram uma imagem diferente da versão oficial, com a proibição de símbolos religiosos ou uso do obrigatório do chinês mandarim, em detrimento do idioma uigur, ou a destruição de lugares sagrados para os uigures em Xinjiang.

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