Os talibãs, no poder desde agosto de 2021, revogaram, na semana passada, a decisão de permitir que as raparigas pudessem frequentar o ensino secundário, poucas horas depois da reabertura, que estava anunciada há bastante tempo.

O anúncio, tão brutal quanto inesperado, ocorreu quando muitas alunas já tinham regressado às aulas.

"Mais atrasos serão prejudiciais para o futuro das raparigas afegãs e tal afetará também a forma como a comunidade internacional se relacionará com os afegãos", referiu aos jornalistas, em Cabul, o chefe do PNUD, Achim Steiner, no âmbito de uma visita de dois dias ao Afeganistão.

"Para nós e para as Nações Unidas, este é um momento crítico (...), mas os líderes afegãos também devem entender que o mundo pode facilmente voltar-se para outras" crises humanitárias no mundo, alertou.

O Ministério da Educação não deu uma explicação clara para justificar o encerramento das escolas secundárias para raparigas, apontando apenas "alguns problemas práticos" que "não foram resolvidos antes do prazo fixado para a abertura'".

"Se há restrições técnicas, se há razões pelas quais não foi possível reabrir as escolas para raparigas, então, por favor, digam-nos, faremos disso uma prioridade", disse o chefe do PNUD aos talibãs.

"Mas se isso for indicador de uma reversão mais profunda deste princípio (de educação para todas as raparigas), então isso criará, penso eu, uma crise nas relações entre a comunidade internacional e o país", disse Achim Steiner.

A comunidade internacional fez do direito à educação para todos um obstáculo nas negociações de ajuda e reconhecimento do regime fundamentalista islâmico.

Desde que os talibãs chegaram ao poder, em agosto passado, e com o fim da ajuda internacional, que representava 75% do orçamento afegão, o país mergulhou numa crise financeira profunda, agravando uma situação humanitária já desastrosa após quatro décadas de conflito e secas recentes.

CMM // MSP

Lusa/Fim