A exposição intitulada "Entrelaçar" apresenta, entre outros, a série "Raízes" e "Pequi Vinagreiro", trabalhos que refletem a preocupação do artista com o ambiente e, particularmente, com a desflorestação da mata atlântica brasileira.

A exposição aborda o conceito de árvore como fenómeno biológico e como metáfora do impacto da globalização nos ecossistemas e na pegada ecológica humana na Terra.

Todos os trabalhos em ferro foram moldados no Brasil e fundidos na China, num processo complexo que demorou, em alguns casos, vários anos.

Apresentada pela primeira vez, no Parque de Serralves, "Pequi Vinagreiro" é inspirada num espécime real, com mais de 1.200 anos, que o artista encontrou na Bahia em 2017. A árvore replicada é uma espécie nativa em risco de extinção, que era utilizada pelos índios para fabricar canoas e se tornou símbolo do desmatamento.

Numa visita para jornalistas à exposição, que abre ao público na sexta-feira, o artista chinês explicou que a obra em ferro fundido é composta por cerca de 800 pedaços, que juntos formam uma escultura com 32 metros de altura e 54 toneladas.

Conceptualizada no Brasil, a obra demorou cerca de três anos a estar concluída e envolveu a participação de cerca de 100 pessoas. As raízes eram um dos objetivos principais da investigação do artista no Brasil.

Questionado pelos jornalistas sobre o papel político do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no desaparecimento da floresta Amazónica, Ai Weiwei admitiu que a situação política naquele país contribui para este desfecho, mas salientou que há mais responsáveis.

"A Amazónia tem gradualmente colapsado e desaparecido e a atual situação política no Brasil contribuiu para esta direção, mas acho que é mais do que isso. Não é apenas um problema do Brasil, mas uma questão global. Vende-se o que se tem, há um grande mercado lá e toda a gente faz parte dele. A China, obviamente, contribui muito para o consumo dos recursos brasileiros", observou.

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia, revelou em 19 de julho, que a desflorestação da Amazónia brasileira nos últimos 11 meses, de agosto de 2020 até junho de 2021, chegou a 8.381 quilómetros quadrados, um crescimento de 51%.

Para além de "Pequi Vinagreiro" e "Raízes", o mais famoso artista chinês, exilado desde 2015 e agora residente em Portugal, apresenta ainda outras peças que completam a exposição, como a escultura "Duas figuras", em que a figura humana é representada tridimensionalmente, a fotografia "Mutuofagia", e o filme "Uma Árvore" que documenta o processo de construção da obra "Pequi Vinagreiro".

Paralelamente, será apresentada uma mostra de 17 filmes, divididos em quatro núcleos temáticos: "Quatro pandemias"; "Contra a censura, cantemos"; "Da utopia à distopia" e "Os condenados da terra".

Durante a apresentação à imprensa, Philippe Vergne, diretor do Museu de Serralves e comissário da mostra, descreveu o trabalho de Ai Weiwei como uma chamada de atenção para o impacto das ações humanas no ambiente, traduzida numa peça "monumental", mas simultaneamente "muito humilde".

Aquele responsável considerou ainda que os trabalhos do ativista chinês refletem a ideia de ciclo de vida, começando numa semente -- neste caso sete raízes -- e terminando numa árvore.

Os trabalhos de Ai Weiwei estarão expostos, no museu, entre hoje e 05 de fevereiro de 2022 e até 09 de julho de 2022 no parque.

VSYM (CYR) // TDI

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