A política internacional é atualmente um domínio em que a incerteza e a volatilidade se tornaram predominantes. Os primeiros cem dias da presidência de Donald Trump foram assinalados devido ao caráter inquietante da sua deriva autoritária. O seu regresso à Casa Branca é acompanhado por ameaças abertas aos alicerces da democracia norte-americana. As consequências deste período de adversidade não se limitam a esta região, ressoa em todo o mundo ocidental, com consequências imprevisíveis para a ordem internacional, para a economia global e para a confiança dos cidadãos nas instituições.

Por outro lado, a resposta alemã à crise é paradigmática no contexto europeu. Perante a ameaça crescente da contínua guerra na Ucrânia e os desmandos vindos de Washington, os principais partidos - CDU e SPD - souberam pôr de lado rivalidades históricas e formar uma coligação robusta, capaz de enfrentar os desafios do presente. Esta união, forjada na adversidade, constitui um exemplo de maturidade democrática e sentido de responsabilidade nacional. Em outras nações, contudo – e Portugal não constitui uma exceção – o debate político continua aprisionado em pequenas dissensões e num ambiente de permanente tensão, onde o insulto fácil substitui a substância e a visão estratégica é suplantada pelo taticismo imediato.

À medida que nos aproximamos das eleições legislativas de 18 de maio, Portugal encontra-se numa encruzilhada. O país tem assistido a um aumento do número de partidos políticos, com a inclusão de 18 candidaturas (partidos ou coligações) nos boletins de voto. No entanto, tem-se verificado uma escassez de ideias mobilizadoras e de propostas transformadoras. A exposição mediática e a atenção dispensada aos escândalos pessoais tendem a desviar a atenção do essencial: a necessidade premente de implementação de reformas que preparem Portugal para um mundo cada vez mais complexo e competitivo.

Num contexto em que as regulamentações se alteram de forma célere, os orçamentos públicos tornam-se mais restritivos e as deliberações executivas são frequentemente ditadas por imperativos de curto prazo, as organizações e os decisores políticos enfrentam um desafio sem precedentes. A capacidade de resposta a situações de crise já não é suficiente. Torna-se, por conseguinte, imperativo antecipar os cenários de instabilidade, compreendê-los e, sobretudo, saber comunicar de forma estratégica e transparente.

Neste âmbito, a consultoria de comunicação e assuntos públicos assume um papel determinante. As organizações, tanto do setor público como do privado, devem estar cientes de que a capacidade de compreender o ambiente político, de construir pontes entre as partes interessadas e de conceber narrativas credíveis é atualmente um ativo tão valioso quanto qualquer inovação tecnológica. A inteligência política e a comunicação estratégica assumem um papel de crescente importância como bússola orientadora, não só para a mera sobrevivência, mas também para a liderança em cenários de incerteza.

Atualmente, Portugal enfrenta uma oportunidade ímpar de reestruturar a sua posição estratégica. O momento é de ação, não de ilusões ou discursos vazios. O momento é oportuno para demonstrar coragem, visão e compromisso com o futuro. A nação encontra-se na necessidade de líderes que inspirem confiança, que promovam a união em vez da divisão e que coloquem o interesse nacional acima das conveniências pessoais e/ou partidárias. Torna-se imprescindível que a sociedade civil evidencie exigência, informação e mobilização, não se conformando com o status quo, exigindo reformas estruturais que assegurem um desenvolvimento sustentável e inclusivo.

A instabilidade global não é uma fatalidade, mas sim um teste à nossa capacidade de adaptação e liderança. Se há lição a retirar destes cem dias de instabilidade internacional, preconizados pela Presidência norte-americana, e da resposta europeia à crise, é que apenas os países, empresas, organizações que souberem transformar a adversidade em oportunidade conseguirão prosperar. O futuro pertence àqueles que se evidenciam pela sua capacidade de pensar de forma inovadora, de comunicar de forma autêntica e de agir com responsabilidade. Este é, pois, o desafio que se nos depara.

Partner & Head of Public Affairs na Guess What