Vivemos tempos de profundas transformações no mundo do trabalho, onde a tecnologia deixou de ser um mero apoio operacional para se tornar um agente ativo na gestão de recursos humanos. Entre os muitos desafios que enfrentamos, a forma como gerimos o tempo, e, em particular, os horários de trabalho, está a ser radicalmente repensada. E não é apenas uma consequência da pandemia; é um reflexo direto do novo mindset geracional.
A geração que hoje entra no mercado de trabalho trouxe à superfície questões que vinham a fermentar há décadas. Já não basta oferecer um bom salário. Os jovens priorizam experiências, procuram equilíbrio entre vida pessoal e profissional, valorizam pausas, querem viajar, explorar o mundo antes de se prenderem a um ritmo de trabalho tradicional. Muitos não se identificam com o modelo rígido de turno das nove às cinco — um sistema herdado da revolução industrial que nos obrigou a associar trabalho a horário, quando, historicamente, o ser humano sempre trabalhou por tarefas.
A tecnologia, felizmente, está a permitir este novo paradigma. Ferramentas de gestão da força de trabalho (Workforce Management - WFM) são hoje indispensáveis, sobretudo em organizações dinâmicas e complexas. Estes sistemas não servem apenas para distribuir turnos com eficiência: eles integram variáveis humanas, respeitam restrições pessoais, dão espaço à individualidade. E isto não significa desumanização, muito pelo contrário. Automatizar processos rotineiros permite personalizar mais e melhor, libertando tempo e energia para aquilo que importa: cuidar das pessoas.
Mas a inovação não pode parar aqui. Falta-nos, ainda, inclusão. Como criar espaço no mercado de trabalho para mulheres grávidas que não querem afastar-se por completo da sua atividade? Como revalorizar reformados com know-how inestimável, mas que já não conseguem acompanhar ritmos intensos? Como oferecer soluções reais para trabalhadores que enfrentam burnout? A resposta está na flexibilidade e na tecnologia que a viabiliza.
Trabalhar por tarefas e não por horários fixos é uma via que pode transformar radicalmente a relação com o trabalho. As empresas que o entenderem primeiro terão uma vantagem competitiva inegável: atrairão os melhores talentos, reduzirão o absentismo, aumentarão a produtividade. Porque, no fundo, é simples: pessoas felizes trabalham melhor.
A qualidade de vida tornou-se um valor de retenção mais poderoso do que o salário. Ninguém abdica do seu tempo ou da sua saúde mental por mais 100 ou 200 euros. E só fixamos talento se respeitarmos a vida das pessoas, os seus ritmos, as suas pausas, os seus eventos pessoais. Isso é possível, e é urgente. A tecnologia, se usada com humanidade e visão, está aqui para ajudar.
No final do dia, a gestão de pessoas continua a ser, antes de tudo, sobre gostar de pessoas. E nisso, nenhuma máquina nos substitui.
Vice-Presidente da SISQUAL® WFM