Mesmo sabendo que o desfecho da situação seria o esperado, a captura do barco pelas forças israelitas, o mundo – ou pelo menos, parte dele – seguiu o percurso do veleiro Madleen, da organização Freedom Flotilla, com esperança. Foi uma pequena bolha de oxigénio numa situação que excedeu todos os limites do aceitável.

Os factos comprovam-no e são várias as organizações internacionais e alguns países a pronunciarem-se: Israel está a cometer um genocídio na Faixa de Gaza. Após bombardear hospitais, escolas, cidades completas, exterminar famílias inteiras, incendiar campos de refugiados, assassinar crianças como nunca se viu, criar uma geração de órfãos e amputados, Israel impôs em Gaza um cerco humanitário que faz da fome mais uma arma mortífera.

E não era preciso ninguém explicar a situação. Basta abrirmos as nossas redes sociais para assistirmos a tudo isso. O primeiro genocídio a ser transmitido em direto e sem filtros, pelas câmaras daqueles que tentam pedir ajuda e documentam o seu próprio fim.

Enquanto a história tratará de julgar os inocentes e os culpados, o mundo assiste de mãos atadas a esta situação, face a uma inação insuportável da comunidade internacional. Nunca o cidadão comum se sentiu tão impotente perante a morte de milhares de pessoas condenadas a um extermínio atroz em nome da autodefesa.

Quando a tripulação do Freedom Flotilla decidiu partir em direção a Gaza, foi como se cada pessoa que deseja o fim desta barbárie se sentisse representada. Finalmente, ação, num mundo em que o silêncio e a indiferença são ensurdecedores.

A bordo do barco, entre outros ativistas, estava Greta Thunberg, a jovem sueca que subiu para a ribalta por defender ferozmente a luta contra as alterações climáticas e a favor de mudanças que possam contribuir para um planeta mais sustentável.

A lutar pelas causas ambientais, Greta foi alvo de muitas críticas, além de ter sido desacreditada por um sistema em que os interesses económicos ultrapassam a necessidade básica de tentar salvar o único planeta que temos.

Agora, Greta voltou a desafiar o sistema a bordo do Madleen e, mais uma vez, foi desacreditada e inferiorizada numa iniciativa que merecia ter recebido mais apoio internacional para cumprir com o seu objetivo e, quem sabe, despoletar o fim do genocídio em Gaza. Infelizmente, o desfecho ficou muito longe desta vontade. Enquanto Greta foi deportada de Israel, outros ativistas da Freedom Flotilla, como Thiago Ávila e Rima Hassan, ficaram detidos em prisões israelitas. "Apenas" porque ousaram tentar travar o extermínio de um povo que acontece aos olhos de todos.

Afinal, não é Greta que está contra o mundo, é o mundo que está contra Greta.