O congresso nacional de Medicina Interna é o ponto alto no calendário dos Internistas. O culminar de um ano de trabalho para a promoção da partilha de conhecimento científico que visa melhorar a prestação de cuidados aos nossos doentes e valorização do papel, cada vez mais fundamental, dos Internistas no Serviço Nacional de Saúde.
Na área da formação, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e todos os Internistas, tal como o lema deste congresso, têm uma tradição que nos enche de orgulho e um futuro próspero pela frente. Mas, infelizmente, também vivemos nos últimos anos um período crítico da nossa história. Encontramo-nos numa encruzilhada de que precisamos sair e apenas juntos o conseguiremos fazer.
Por um lado, precisamos de mais especialistas em Medicina Interna para responder ao envelhecimento da população, com mais doenças crónicas interligadas e complexas, onde as restantes especialidades, hiperespecializadas em procedimentos e técnicas, estão menos disponíveis e preparadas para essa população. Precisamos de mais especialistas em Medicina Interna para responder aos serviços de urgência, especialmente nos horários incómodos de noite e fim-de-semana que as equipas fixas, que se querem separar numa nova especialidade, não aceitam como seu.
Por outro lado, mantém-se a menor valorização do trabalho intelectual e de contacto direto com o doente, mesmo que traga maior valor em Saúde para o doente e sistema de Saúde, em comparação com o ato e procedimento técnico.
Por estas e outras razões, quando precisávamos de aumentar a nossa força de trabalho, temos perdido capacidade de atração de novos médicos o que ainda agrava mais este ciclo vicioso. E, apesar de sermos o suporte a todos os doentes complexos, agudos ou crónicos, no internamento, consulta ou urgência, quando há decisões críticas entre a Medicina Interna e outras especialidades de fronteira, temos sido colocados em segundo plano, tal como aconteceu com a Diabetes e, antes disso, nas doenças autoimunes, hepáticas, cerebrovasculares ou gastrointestinais.
Será altura de uma rebelião? Na nossa opinião, ainda não. Antes disso precisamos de valorizar o nosso papel crucial no sistema de saúde, concentrado no doente adulto complexo, esteja onde estiver, dentro ou fora do hospital, com patologia aguda ou crónica e corrigir o que fazemos menos bem, mesmo que justificado pelo excesso de trabalho.
Em concreto, estamos a trabalhar ativamente para a criação de um sistema de incentivos baseado em parâmetros de qualidade e de melhoria em saúde dos nossos doentes e fomentar a reforma do SNS com a criação de departamentos de medicina, liderados pela Medicina Interna, em trabalho de equipa com as restantes especialidades hospitalares, nalguns casos organizado em unidades temáticas, mas sempre em conjunto com todos. Igualmente, dentro da nossa dimensão, através do nosso centro de ensino e investigação (EIMI) e dos nossos núcleos de estudo, estamos a apoiar e facilitar toda a investigação e publicação em Medicina Interna. Só quem faz investigação e a publica é que consegue ser valorizado pelos seus pares e decisores políticos. Tudo isto, sempre em parceria com o colégio de Medicina Interna e com todos os Internistas, diretores de serviço, assistentes, orientadores de formação e internos.
Contamos com todos para sair desta encruzilhada!
Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna