Não posso deixar de começar por demonstrar o meu total apoio à banda Anjos. Eu próprio sou adepto de vibratos em eventos desportivos. Aliás, recordo com nostalgia o dia em que entoei "Alé Alé é ô" na bancada dos Super Dragões num Porto x Estoril. No "Alé Alé" optei pela versão standard, guardando cuidadosamente a surpresa para as vogais seguintes: falsete em mi menor com extensão do "ô". Notou-se que impressionei alguns adeptos, que se viraram na cadeira para trás, qual Anselmo Ralph no The Voice Kids. Alguns adeptos – os apreciadores mais requintados, decerto – presentearam-me com dois socos nos dentes e um very-light nas costas, uma das mais reputadas formas de socialização entre adeptos. É um bom convívio.
É irónico que advogar pelos "Anjos" faça de mim o advogado do Diabo. Mas a língua portuguesa tem destas contradições que nos fazem vibrar.
Também vos digo que quem não defende os Anjos é gente que nunca teve acne.
Só eu sei o que passei no décimo ano, quando fiz um tratamento para o acne que consistia na aplicação de um creme de manhã que me secava a pele e me fazia chegar à escola com a derme consistente como um farelo de trigo. Chamavam-me o “cara de caspa”. Bons tempos.
Sérgio Rosado disse ainda que para evitar uma depressão teve de fazer um triatlo. Tenho mais dúvidas quanto a esta solução. É uma prescrição esquisita para estar num P1. E ainda que possa ajudar, duvido que um psiquiatra ouvindo isto não diga: “está bem, mas mantenha os antidepressivos.”.
Entretanto estou a entrar numa fase da vida em que tenho de ir a casamentos de pessoas da minha idade. E atenção que se andam a criar dinâmicas demasiado modernas nos casamentos. Por exemplo, os meus últimos noivos decidiram criar um chatbot para dar informações e esclarecer dúvidas sobre o casamento. Uma espécie de Chat GPT especializado naquele evento. Note-se que estamos a falar de um casamento católico que se realizou pouco depois do pedido de noivado. Decidi perguntar ao chatbot: “A noiva está grávida?”.
Ainda que se comecem a ver inovações no matrimónio, há certos hábitos que as pessoas insistem em perpetuar. Desde logo nos convites. Não inventem. Eu só quero uma coisa no meu convite: honestidade.
“A melhor prenda que nos podes dar é a tua presença”.
Não é. Não me mintam. Ainda por cima eu sou um plus one.
E deixem-me que vos diga que essa é uma frase estranha para se pôr antes de um IBAN.
Já que se modernizam tantas áreas dos casamentos, proponho que se reflita nas frases que vêm nos convites. Está para chegar o dia, em que recebo um convite que diga simplesmente:
“A melhor prenda que nos podes dar são 125 paus e usares os copos de plástico, que a caução da quinta saiu-nos do bolso”.
Eu tenho pouco jeito para estar em casamentos. Sobretudo na parte da cerimónia propriamente dita. A chamada “missa”.
Isto porque, reparem, eu não sou católico. Eu sou o que se chama comummente no jargão religioso como “adepto da ciência.”. E, por isso, a minha experiência em celebrações religiosas está ali taco a taco com a minha experiência com mulheres mesmo muito boas.
Nesse sentido, às vezes passo vergonhas por não saber comportar-me na igreja. A mais comum é logo à entrada. Quando os meus pares se benzem, eu normalmente coço o nariz, numa tentativa de simular um gesto vagamente semelhante, mas sem ir contra aquilo em que acredito. O equivalente a espreguiçar-me na Alemanha Nazi.
Mas neste último casamento a que fui, aconteceu-me uma nova. Estamos, novamente, no casamento católico que tinha o chatbot.
A missa chega àquela parte em que as pessoas se cumprimentam e dizem a mesma frase umas às outras. Agora notem: isto é território inexplorado para mim.
Eu estou rodeado de betas que só dão um beijinho. A senhora ao meu lado avança para me beijar e diz-me a frase, que mais tarde vim a descobrir ser: “Paz de Cristo.”. Ênfase no mais tarde.
Isto porque naquela altura, o que eu ouvi e me fez todo o sentido foi: “Vai um kiss”.
Portanto sim, eu disse “vai um kiss” a todas as mulheres que cumprimentei neste momento.
Quando saí da igreja e partilhei o que se tinha passado com os meus amigos, fui naturalmente alvo de chacota. As piadas foram tão frequentes que os meus poros começaram a chorar a rir, de tal forma que tive uma crise de acne. Felizmente tenho a barba longa para poder tapar as marcas. Mas há marcas que ficam, e essas não se veem. Até vos dizia mais, mas tenho de fazer o saco para o triatlo.