A presidente da Comissão Europeia defendeu recentemente a aplicação de novas sanções energéticas à Rússia, depois de Vladimir Putin ter recusado reunir-se com Volodymyr Zelenskyy na Turquia. Esta posição coloca novamente em evidência a importância da segurança energética no espaço europeu, especialmente num momento de crescente tensão internacional.

O apagão que afetou a Península Ibérica a 28 de abril de 2025 revelou uma vulnerabilidade já conhecida no sistema energético europeu. A fraca interligação elétrica entre a Península Ibérica e o resto da Europa é um sério problema. Atualmente, segundo o governo espanhol, a interligação situa-se entre 2% e 3%, quando a meta definida pela União Europeia para 2030 é de 15%. A capacidade de resposta a falhas técnicas continua limitada e os efeitos dessa limitação são evidentes.

Portugal tem uma capacidade relevante na produção de energia renovável. Os recursos naturais disponíveis permitem uma aposta consolidada na energia solar, eólica e marítima. Projetos como o hub de hidrogénio verde de Sines representam um esforço concreto na transição energética. No entanto, esta capacidade não é plenamente aproveitada devido à reduzida integração com o mercado europeu. As ligações energéticas com França, tanto no setor elétrico como no gás natural, continuam limitadas. Esta situação afeta negativamente a segurança energética de Portugal e de Espanha e compromete a eficiência do mercado europeu. Para além disso, Portugal e Espanha teriam capacidade para especializar parte das suas economias na produção e exportação de energia verde.

A ministra espanhola para a Transição Ecológica, Sara Aagesen, sublinhou recentemente a necessidade de reforçar as interligações com França. Em Portugal, essa urgência não tem sido acompanhada pela mesma pressão política. A continuidade deste bloqueio afeta a competitividade da energia produzida na Península Ibérica e beneficia o modelo energético de países como a França, que tem um peso elevado da energia nuclear no seu sistema. E é neste ponto que reside o problema da Península Ibérica. A energia verde produzida em Portugal e Espanha é vista como uma concorrência desnecessária à energia produzida a partir de fonte nuclear.

Alguns Estados-membros, liderados por França, têm, inclusivamente, defendido que o hidrogénio produzido com energia nuclear seja considerado “verde”. Esta classificação poderá trazer vantagens económicas para esses países, mas levanta dúvidas quanto à coerência da política energética europeia. Enquanto decorrem estas discussões, Portugal permanece com limitações de acesso aos mercados europeus, mesmo com capacidade instalada e potencial de crescimento.

A falta de interligação energética não é apenas uma questão técnica. Tem implicações económicas diretas para os países afetados. Em contextos de crise, como o atual, a resiliência do sistema europeu depende da capacidade de redistribuir energia de forma eficiente. O apagão de abril demonstrou que essa capacidade ainda não está garantida. A transição energética da União Europeia depende da eliminação destes constrangimentos.

Portugal pode contribuir de forma relevante para os objetivos climáticos e energéticos da Europa. Para isso, é necessário resolver as limitações existentes nas infraestruturas de interligação e promover uma integração real da Península Ibérica no sistema energético europeu.

Professor Associado e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia