Entre sobreiros centenários e os tons quentes da planície alentejana, uma revolução silenciosa está a acontecer. Não é uma startup, nem um retiro espiritual. É a Traditional Dream Factory (TDF), um projeto ambicioso que junta nómadas digitais, entusiastas da Web3 e arquitetos da regeneração ecológica. A promessa? Viver e trabalhar de forma mais consciente, sustentável — e descentralizada.

Liderada pelo empreendedor francês Samuel Delesque, a TDF transforma um antigo centro de criação avícola num ecossistema de inovação regenerativa. O projeto, instalado em mais de 90 hectares no concelho de Santiago do Cacém, é mais do que um espaço para freelancers ou nómadas digitais: é uma aldeia regenerativa alimentada por blockchain e idealismo pragmático.

“Estamos a desenhar um modelo de vida mais conectado com a natureza e com a comunidade, onde a tecnologia é uma aliada da sustentabilidade”, afirma Delesque, que já investiu mais de um milhão de euros em infraestruturas.

Um token para viver o futuro

No centro do projeto está o $TDF, um token digital baseado na blockchain Celo, que funciona como ferramenta de financiamento e de acesso à comunidade. Cada token garante ao seu detentor um dia por ano de estadia na aldeia, enquanto for mantido. Não é apenas uma moeda: é uma espécie de passe anual para uma experiência de vida alternativa e regenerativa.

O modelo evita a especulação e promove uma ligação direta entre investimento e impacto real. “O token está associado a ativos físicos — terrenos, edifícios, infraestrutura — e a métricas ambientais verificáveis. Cada passo que damos é medido e validado”, sublinha Delesque.

Com mais de 250 titulares ativos, o projeto já conta com zonas de glamping, coworking, cafeteria, sauna, e um espaço para eventos com 140 m². A expansão prevê ainda 14 suítes privadas, estúdios criativos, um restaurante, uma piscina biológica e 23 casas de madeira até 2026. Tudo com base num modelo de governação descentralizada (DAO), onde as decisões são tomadas em comunidade.

A TDF é construída por uma equipa multidisciplinar de mais de 60 profissionais — engenheiros, arquitetos, permacultores, artistas e criadores digitais — numa abordagem sistémica que procura equilibrar o impacto humano com a regeneração do ecossistema local.

A arquitetura integra-se no território. As casas são em madeira, os sistemas de água são fechados, os materiais reciclados, e a energia é gerida com autonomia. “Estamos a desenhar para a permanência, mas com flexibilidade. Queremos que este modelo seja escalável e replicável noutros territórios do mundo”, reforça o fundador.

A Traditional Dream Factory pode soar a utopia, mas é alimentada por dados, código aberto e decisões partilhadas. É aqui que o espírito do Alentejo encontra a vanguarda da Web3. Um ponto de encontro entre a tradição e o futuro, onde se experimenta um novo paradigma de comunidade, propriedade e impacto.

“Não é um retiro. É um laboratório de vida”, resume Delesque. E a julgar pelo entusiasmo dos primeiros residentes e investidores, a TDF pode muito bem tornar-se o modelo de aldeia do século XXI — onde viver bem, com pouco, e em rede, é finalmente possível.

No Alentejo, o sonho regenerativo é agora código vivo. Literalmente.