Num cenário onde a inteligência artificial e a automação ampliam o alcance das ciberameaças, as empresas enfrentam o desafio de abandonar modelos reativos e adotar estratégias baseadas em inteligência contra ameaças, capazes de antecipar riscos e reforçar a resiliência organizacional.

O setor da cibersegurança atravessa uma fase de transformação inevitável. As medidas tradicionais, que respondem apenas após um incidente, já não são suficientes face a ataques cada vez mais sofisticados, potenciados pela inteligência artificial, pela automação e pelas chamadas ameaças persistentes avançadas (APT). Os dados do estudo Improving Resilience: Cybersecurity through System Immunity, realizado pela Kaspersky, confirmam esta tendência ao mostrar como a inteligência contra ameaças (Threat Intelligence, TI) se tornou peça central na construção de defesas eficazes.

A mudança de uma postura reativa para uma abordagem proativa surge como fator crítico para manter a resiliência empresarial. Ao antecipar potenciais riscos, identificar atividades maliciosas em fase inicial e mitigar vulnerabilidades antes que escalem, as organizações conseguem reduzir o impacto dos ataques e proteger ativos estratégicos.

O papel da inteligência contra ameaças

A inteligência contra ameaças vai além da simples recolha de dados técnicos. Trata-se de informação acionável sobre as táticas, técnicas e procedimentos utilizados por cibercriminosos, permitindo às equipas de segurança ajustar as suas estratégias defensivas em tempo real. O estudo da Kaspersky mostra que 36% das empresas europeias recorrem a fornecedores especializados neste tipo de informação, e uma parte significativa participa em redes de partilha com outras organizações. Além disso, 24% complementam esta visão com dados de fontes abertas.

O valor da TI está em tornar os sistemas mais ágeis e adaptáveis. Cerca de 40% dos inquiridos salientam a necessidade de melhorar a análise e a definição de prioridades para que a informação seja verdadeiramente utilizável em contextos práticos. Já 30% reforçam a importância de dados oportunos e integrados diretamente nos fluxos de trabalho de segurança, eliminando duplicações e facilitando a ação rápida.

Apesar de 89% das organizações europeias se mostrarem satisfeitas com as soluções disponíveis, os números revelam áreas críticas que ainda exigem investimento. A integração mais simples nos processos de segurança foi apontada como necessidade por 20% dos profissionais inquiridos, assim como a maior velocidade na disponibilização de dados sobre ameaças emergentes.

Outros pontos de atenção incluem a qualidade e precisão da informação, destacada por 30% dos participantes como fundamental para reduzir falsos positivos e evitar falhas na deteção. Já 20% consideram prioritária uma cobertura mais abrangente, de forma a não deixar escapar ameaças críticas. Apenas 10% destacaram a importância da análise comparativa entre sistemas, que poderia trazer contexto adicional sobre relações e padrões entre ataques.

O panorama europeu mostra, assim, uma consciência generalizada sobre o valor da TI, mas também a perceção de que o seu impacto pode ser significativamente ampliado através de melhorias na integração, na rapidez e na relevância.

Implicações para os decisores

Para os responsáveis de TI e gestores de compras tecnológicas, a leitura deste estudo deixa um recado claro: a resiliência não depende apenas de investimento em ferramentas, mas da capacidade de transformar informação em decisão rápida e fundamentada. A inteligência contra ameaças é um recurso que deve estar integrado em todas as fases do ciclo de segurança, da prevenção à resposta a incidentes.

Seja através de fornecedores especializados ou de plataformas próprias, o desafio das empresas não é apenas aceder à informação, mas garantir que esta chega no momento certo, com qualidade e contexto suficientes para orientar ações imediatas. A cibersegurança deixou de ser apenas um exercício técnico e passou a ser um imperativo estratégico para a continuidade do negócio.