O dirigente do Livre Rui Tavares lançou um apelo direto à comunicação social portuguesa, desafiando-a a refletir seriamente sobre o desequilíbrio na cobertura política, que, segundo acusa, tem dado palco excessivo à extrema-direita, em detrimento de forças democráticas como o seu partido. As declarações foram feitas durante a Feira do Livro de Lisboa, numa intervenção que promete agitar o debate público.

A crítica surgiu no contexto da apresentação do seu novo livro, “Hipocritões e Olhigarcas”, ao lado do humorista Ricardo Araújo Pereira, onde Tavares denunciou o silêncio mediático que se seguiu ao crescimento do Livre nas eleições legislativas de 18 de maio. “Fomos considerados vencedores das eleições, mas não demos uma única entrevista de fundo desde então”, frisou.

Para o historiador e deputado, a instabilidade política dos últimos anos alimenta o ressentimento e impulsionado partidos extremistas, ao passo que alternativas construtivas são ignoradas. “A extrema-direita ataca diariamente os jornalistas e mesmo assim está sempre presente nos meios de comunicação social”, criticou.

“Não vale a pena fazer uma reflexão acerca disto?”, questionou, alertando para o risco de os próprios media estarem a alimentar forças que ameaçam a democracia. Apesar do tom crítico, Rui Tavares sublinhou que a sua intervenção não visa desvalorizar o papel do jornalismo, mas sim provocar um debate sério e urgente.

“A primeira coisa que todos devíamos fazer para travar a extrema-direita é não a ajudar. E ela tem sido ajudada todos os dias”, apontou. Tavares considera que a comunicação social, as lideranças partidárias e até o Presidente da República devem fazer parte desse debate e assumir responsabilidades.

Confrontado com a questão sobre como pretende captar a atenção mediática num cenário que considera desfavorável, Rui Tavares respondeu com firmeza: “Pessoa a pessoa, com propostas concretas, que mobilizem a imaginação, que não excluam ninguém. É isso que a esquerda tem de fazer.”

Referindo-se aos discursos do 10 de junho, feitos em Lagos por Marcelo Rebelo de Sousa e Lídia Jorge, o dirigente do Livre destacou os valores da solidariedade, da entreajuda e da coesão social como pilares fundamentais da identidade nacional, contrapondo-os ao discurso de divisão promovido pela extrema-direita.

“Contra quem quer construir Portugal através do ódio, dos rancores e dos ressentimentos, temos de erguer um país de progresso e inclusão”, concluiu.