
O Relatório Anual 2024 do Programa Nacional de Vacinação (PNV), divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), revela níveis globalmente elevados de adesão à vacinação em Portugal Continental. Contudo, a análise desagregada por município evidencia desigualdades territoriais, com vários concelhos do Alentejo a registarem coberturas vacinais abaixo dos 95% definidos como meta nacional.
A maioria das vacinas administradas até aos seis anos mantém coberturas superiores a 95%, mas há exceções significativas na região. Em Mourão, por exemplo, a cobertura da 1.ª dose da vacina contra a hepatite B (coorte de 2024) foi inferior a 90%, posicionando este município entre os quatro do país com os valores mais baixos.
Na 2.ª dose da vacina contra Streptococcus pneumoniae de 13 serotipos (Pn13), coorte de 2023, o concelho de Ferreira do Alentejo registou também cobertura inferior a 90%. O mesmo acontece com as vacinas contra Neisseria meningitidis do serogrupo B (MenB), na qual os concelhos de Vendas Novas, Redondo e Mourão ficaram abaixo dos 90%.
Na 3.ª dose da vacina hexavalente (que inclui proteção contra difteria, tétano, tosse convulsa, poliomielite, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b), as coberturas vacinais nos concelhos de Mourão, Redondo e Barrancos não atingiram os 90%.
Já a vacina contra o sarampo, papeira e rubéola (VASPR), considerada essencial na eliminação destas doenças, registou no Alentejo vários municípios abaixo da meta. Em 2023, concelhos como Mourão, Barrancos, Vendas Novas, Redondo, Ferreira do Alentejo, Vidigueira e Campo Maior tiveram coberturas inferiores a 95% na 2.ª dose, com alguns destes a situarem-se entre os 90% e os 94,9%.
Também na vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV), a região apresenta disparidades. Na coorte de 2013 (rapazes e raparigas com 11 anos), municípios como Reguengos de Monsaraz, Sousel, Barrancos, Cuba, Alvito, Moura, Gavião e Alter do Chão registaram coberturas abaixo dos 85%, em particular nas raparigas. Esta tendência repete-se na coorte de 2012 (12 anos), onde as segundas doses em muitos destes concelhos ficaram abaixo dos 85%.
A DGS alerta para a existência de «bolsas de suscetibilidade» e destaca que, apesar das metas nacionais estarem geralmente cumpridas, a existência de coberturas locais baixas coloca em risco a proteção de grupo e pode comprometer os objetivos de eliminação de doenças como o sarampo e a poliomielite.
Em 2024, iniciou-se também a campanha de imunização contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), dirigida a lactentes. A cobertura nacional situou-se nos 86%, mas o relatório não apresenta dados desagregados por região, pelo que não é possível aferir a adesão no Alentejo.
A Direção-Geral da Saúde apela ao reforço da vigilância e intervenção local, sublinhando o papel das unidades de saúde pública, autarquias e profissionais de saúde na recuperação das metas nos concelhos com níveis de cobertura abaixo do recomendado.