
Fazal Ahmad, presidente da Associação Ahmadia do Islã, reagiu esta segunda-feira à manifestação agendada para o feriado de 10 de junho, em Samora Correia, que visa contestar a construção de uma mesquita pela comunidade. A ação, que deverá reunir apoiantes de diversos setores políticos e sociais, é encarada pela associação como resultado de “ódio, racismo, preconceito e desinformação”, com especial destaque para o envolvimento de alguns partidos políticos.
Para Fazal Ahmad, a controvérsia reflete sobretudo um profundo desconhecimento sobre a natureza do projeto e sobre a identidade da própria associação. “Não estamos a abandonar Odivelas por falta de condições, mas sim a procurar um espaço onde possamos organizar pacificamente as nossas atividades. O complexo religioso será um edifício como qualquer outro, e não uma ameaça ao modo de vida local”, afirmou.
O dirigente rejeita os argumentos que classificam a iniciativa como despropositada ou imposta, frisando que se trata de uma decisão legítima e ponderada, pensada para responder às necessidades da comunidade Ahmadia, mas com equipamentos sociais abertos a toda a população. “Ninguém será obrigado a deixar de praticar os seus costumes”, garantiu.
Fazal Ahmad lamenta ainda aquilo que considera ser um aproveitamento político da situação. “Alguns partidos e indivíduos estão a instrumentalizar esta questão com fins pessoais e eleitorais. Frases contra qualquer religião ou cultura não devem ser usadas como arma política”, declarou. E acrescenta: “Os políticos que incitam o público contra uma religião ou cultura estrangeira não colherão frutos duradouros”.
Apesar da tensão, o presidente da associação manifesta disponibilidade para o diálogo e para a convivência pacífica com a população local. “Se a manifestação tiver como objetivo a defesa das tradições e costumes locais, estaremos ao lado da população. Mas rejeitamos qualquer tentativa de promover ódio, racismo ou xenofobia”, sublinhou, reafirmando que a construção da mesquita não pretende apagar identidades culturais, eliminar festas populares ou substituir igrejas. “Esse medo é infundado”, reiterou.
A associação também afastou qualquer ligação às comunidades islâmicas de Odivelas ou do Martim Moniz, explicando que se trata de uma entidade independente, com presença internacional, que defende os valores da paz, da tolerância e do diálogo inter-religioso. “A nossa reputação em todo o mundo baseia-se na promoção da liberdade de crença e da reconciliação”, afirmou Fazal Ahmad.
Como sinal de integração e solidariedade, a comunidade participou, no passado dia 29 de maio, numa campanha de doação de sangue promovida pelo Instituto Português do Sangue e pela Cruz Vermelha Portuguesa, no Centro Social do Porto Alto. A ação, realizada no feriado municipal da Quinta-Feira da Ascensão, foi apresentada como a “primeira reação” da associação à manifestação.
Recorde-se que a manifestação, agendada para as 15.00 horas, desta terça-feira, 10 de junho, Dia de Portugal, foi convocada por Ruben Vicente, “Pelas Tradições e Costumes” da cidade de Samora Correia.
Nas últimas semanas têm sido muitos os que apoiaram a iniciativa, com destaque para os partidos políticos, como o PS, CHEGA e PSD, que apoiaram a iniciativa e prometeram marcar presença na manifestação contra a construção de uma mesquita em Samora Correia.