
Na pacata aldeia de Corte Malhão, situada na freguesia de São Martinho das Amoreiras, concelho de Odemira, uma controvérsia fervilha entre parte dos habitantes e a empresa de telecomunicações Vodafone. O motivo do descontentamento é a implementação iminente de uma antena de telecomunicações, com os residentes a acusarem a empresa de colocar em risco a sua qualidade de vida ao expô-los aos potenciais malefícios da radiação 5G.
Face ao descontentamento da população foi elaborado um abaixo assinado que já conta com 120 assinaturas.
A polêmica ganhou força à medida que a Vodafone avançou com a implementação da antena num local proximo das habitações locais, gerando preocupações entre os moradores. Que alegam que a radiação proveniente da antena 5G representa um perigo significativo para a saúde, e questionam a escolha da Vodafone de localização, argumentando que existem alternativas mais seguras.
Nuno Duarte, presidente da Junta de Freguesia de São Martinho das Amoreiras, tentou intervir no processo ao apresentar um pedido ao presidente do município em outubro. Contudo, os esforços foram em vão, pois a obra recebeu licenciamento municipal, e a junta de freguesia ficou de mãos atadas diante da situação, desconhecendo-a até que foi alertada pelas movimentações populares.
A população, em descontentamento, chegou mesmo a realizar uma reunião com o presidente do município, Hélder Guerreiro. Este manifestou disponibilidade para assumir os custos da transferência da antena para um local mais seguro, estimado em 250 mil euros, na tentativa de acalmar os ânimos dos moradores. Outra proposta apresentada foi o investimento na aldeia, no valor equivalente, como uma alternativa aceitável pela comunidade.
De forma a compreendermos melhor os factos tentamos contactar o executivo municipal de Odemira presidido por Hélder Guerreiro, que não desmonstrou disponibilidade em responder às nossas questões, afirmando não querer falar acerca desse assunto.
A população alega ter tentado contacto direto com a Vodafone , que deram como exemplo as antenas localizadas em telhados de casas nas grandes cidades, as quais, segundo esta operadora, não representam qualquer perigo para a população. No entanto, até o momento, as preocupações e objeções dos habitantes permanecem sem solução, lançando um véu de incerteza sobre o futuro da relação entre a comunidade e a empresa de telecomunicações.
Os potenciais malefícios da radiação 5G têm sido objeto de debates e pesquisas científicas, mas é importante notar que a grande maioria dos estudos até o momento não encontrou evidências conclusivas de danos à saúde humana. A tecnologia 5G refere-se à quinta geração de redes móveis, proporcionando velocidades de conexão mais rápidas e uma capacidade maior de suportar dispositivos conectados simultaneamente.
As frequências usadas em redes 5G são divididas em bandas de espectro, incluindo as de baixa frequência (sub-1 GHz), média frequência (1-6 GHz), e alta frequência (acima de 24 GHz). A preocupação principal recai sobre as bandas de alta frequência, especificamente as ondas milimétricas, devido à sua capacidade limitada de penetração em edifícios e objetos.
Os detratores da implementação do 5G, como no caso de Corte Malhão, frequentemente levantam preocupações sobre a exposição contínua a essas ondas, alegando efeitos nocivos à saúde. No entanto, até o momento, organismos de saúde e reguladores, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Comissão Internacional de Proteção contra Radiações não Ionizantes (ICNIRP), afirmam que os níveis de exposição aos campos eletromagnéticos em redes 5G estão abaixo dos limites considerados seguros.
O debate sobre os potenciais riscos à saúde associados à exposição a campos eletromagnéticos de radiofrequência, especialmente com a implementação do 5G, tem gerado preocupações em algumas comunidades. É importante observar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades internacionais estabeleceram padrões de segurança para lidar com essas preocupações.
A OMS, no início dos anos 2000, já estava ciente da preocupação pública em relação à telefonia móvel e, em 2006, reconheceu que “algumas pessoas consideram provável que a exposição a campos eletromagnéticos de radiofrequência acarrete riscos e que estes podem até ser graves”. No entanto, em suas revisões posteriores, a OMS afirmou que não há evidências confirmadas de efeitos nocivos à saúde pelo uso de telefones celulares.
Os níveis de exposição a campos eletromagnéticos são regulamentados por agências internacionais, como a Comissão Internacional para Proteção contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP) na Alemanha, que estabeleceu padrões baseados em revisões científicas periódicas. Além disso, outras organizações, como o Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) e a Food and Drug Administration dos Estados Unidos (FDA), revisam regularmente e estabelecem diretrizes para limites seguros de exposição humana.
É crucial ressaltar que os níveis de exposição considerados seguros estão dezenas de milhares de vezes abaixo dos limites estabelecidos por essas agências. Portanto, em condições normais de exposição, os campos eletromagnéticos de radiofrequência são considerados seguros.
No entanto, é importante diferenciar entre os efeitos da radiação emitida por dispositivos eletrônicos e os efeitos derivados do uso dessas tecnologias. Estudos mostraram que o uso excessivo de dispositivos pode ter impactos negativos na saúde, como dependência, problemas musculares, má postura e alterações nos hábitos saudáveis e relações pessoais.
Enquanto alguns movimentos anti-5G levantam preocupações, é crucial confiar em evidências científicas e regulamentações estabelecidas para avaliar os reais riscos à saúde. A indústria e profissionais do setor estão interessados em garantir a segurança das tecnologias de comunicação, e a negação infundada das evidências pode levar a uma compreensão equivocada dos riscos associados à radiação.