
O Ministério Público confirmou esta quarta-feira, 11 de junho, a abertura de um inquérito para investigar a agressão violenta de que foi vítima o ator Adérito Lopes, da companhia de teatro A Barraca, durante a chegada ao teatro Cinearte, no Largo de Santos, em Lisboa, no âmbito de um espetáculo de homenagem a Camões.
Em resposta escrita enviada à agência Lusa, a Procuradoria-Geral da República confirmou que “existe um inquérito em curso” para apurar os factos relacionados com o episódio de violência, que ocorreu no Dia de Portugal, por volta das 20h00, à porta da sala de espetáculos.
Segundo testemunhos no local, incluindo o da atriz e encenadora Maria do Céu Guerra, o ataque foi perpetrado por um grupo de extrema-direita, identificado como neonazi, que exibia cartazes com frases xenófobas e insultuosas. “Começaram por provocar uma das atrizes que se aproximava, e quando outros colegas chegaram, dois foram provocados e um terceiro acabou agredido com violência”, descreveu a atriz, visivelmente indignada com o sucedido.
A vítima, Adérito Lopes, sofreu ferimentos visíveis no rosto, incluindo um corte profundo e um hematoma ocular, tendo recebido assistência médica hospitalar de urgência.
A PSP foi chamada ao local pelas 20h15, após a denúncia de agressões na zona do Largo de Santos. Um homem de 45 anos relatou às autoridades ter sido atacado à saída do seu veículo por um indivíduo. Com base na descrição do suspeito fornecida pela vítima e por uma testemunha, a polícia desenvolveu buscas imediatas nas ruas adjacentes, tendo localizado e identificado um jovem de 20 anos como o principal suspeito da agressão.
O espetáculo visado, intitulado “Amor é fogo que arde sem se ver”, era uma homenagem pública a Luís de Camões, com entrada livre, e destinava-se a celebrar a cultura portuguesa no Dia Nacional. O ambiente pacífico da noite foi, assim, perturbado por uma ação violenta, com motivações ideológicas claras, lançando um alerta sério sobre o crescimento da intolerância racial e política em Portugal.
A agressão suscitou uma onda de solidariedade no meio artístico e cultural, com várias figuras públicas a exigirem justiça e a condenarem veementemente este tipo de ataques. A companhia A Barraca ainda não emitiu um comunicado oficial, mas garantiu que o espetáculo não será silenciado pelo medo.
A investigação prossegue agora sob responsabilidade do Ministério Público, visando apurar responsabilidades criminais e compreender se há ligações organizadas ou reincidência por parte do grupo agressor.