Na era digital, onde a comunicação instantânea encurta distâncias e aproxima pessoas, proliferam também esquemas de burla cada vez mais sofisticados que exploram a boa-fé e a vulnerabilidade dos cidadãos. Uma dessas práticas, infelizmente em expansão, consiste no envio de emails fraudulentos com promessas de doações avultadas de dinheiro, geralmente justificadas por histórias dramáticas de doença terminal, heranças ou remorsos tardios.

Recentemente, vários leitores relataram ter recebido mensagens assinadas por uma alegada “Madame Saunier Michelle”, que afirma ser uma cidadã belga com um cancro em fase terminal e o desejo de doar 950 mil euros a um desconhecido escolhido “pela vontade de Deus”. A mensagem, redigida num português precário, apela à compaixão do destinatário e solicita contacto direto para um endereço de email pessoal.

Trata-se, sem margem para dúvidas, de um esquema de burla clássico, com todas as marcas típicas de fraude digital: uma narrativa comovente, uma promessa irrealista, um apelo religioso ou moral, e um pedido para prosseguir a conversa fora dos canais seguros.

Como funciona este tipo de fraude?

Este tipo de email insere-se nas chamadas “fraudes por adiantamento de dinheiro” (também conhecidas como “fraude 419”, em referência ao código penal nigeriano onde esta prática é criminalizada). O objetivo é levar o destinatário a acreditar que será beneficiário de uma grande quantia monetária. Após conquistar a sua confiança, os burlões começam a solicitar pequenas somas para “legalizar o processo” – taxas notariais, impostos fictícios, custos de transferência bancária ou traduções juramentadas – que, somadas, podem ascender a milhares de euros.

Em muitos casos, os burlões conseguem ainda obter dados pessoais e bancários, que podem ser usados para roubo de identidade ou acesso fraudulento a contas.

Como proteger-se:

  1. Desconfie de promessas inesperadas de dinheiro, sobretudo quando envolvem histórias trágicas ou religiosas.
  2. Nunca forneça os seus dados pessoais, bancários ou documentos oficiais a remetentes desconhecidos.
  3. Não responda ao email. Isso apenas confirmará que o seu endereço está ativo, tornando-o alvo de mais tentativas.
  4. Marque a mensagem como spam ou phishing na sua plataforma de correio eletrónico.
  5. Denuncie a tentativa de burla às autoridades, como a Polícia Judiciária ou o Portal da Queixa.

Um apelo à vigilância

A boa-fé é um valor nobre, mas na internet deve caminhar de mãos dadas com a prudência. Estas mensagens são cuidadosamente desenhadas para manipular emoções e explorar esperanças. Num tempo em que a desinformação se alastra tão rapidamente quanto os próprios vírus informáticos, é essencial manter uma atitude crítica e vigilante perante comunicações suspeitas.