
Na semana em que entramos em verdadeira campanha eleitoral, o país foi confrontado com uma situação inédita. O país ficou às “escuras”. A rede elétrica colapsou e todo o país ficou sem acesso a eletricidade.
Em tal situação inédita e inesperada, naturalmente, instalou-se algum caos e receio, alimentados ainda mais pelas correntes de desinformação que previam já o anúncio de uma entrada das tropas russas pelo Terreiro do Paço, prontas para tomar a capital portuguesa.
Tal como neste momento já todos sabemos, nada disso se verificou, nem pouco mais ou menos. Apesar de algumas horas de desnorte e de acesso a pouca informação, ainda no próprio dia, o problema estava solucionado. De forma totalmente autónoma, através das centrais de Castelo de Bode e da Tapada do Outeiro, em poucas horas conseguimos restabelecer a ligação elétrica em todo o país.
Em suma, depois daquelas inesperadas horas para mais tarde recordar, para alegria e serenidade de todos, estava reposta a normalidade.
No entanto, ainda em meio à crise e no rescaldo da mesma, fomos presenteados com um tentativa cabal de oportunismo político por parte dos líderes da coligação que derrubou o Governo. Claro está, refiro-me a André Ventura e Pedro Nuno Santos.
Ainda no próprio dia, André Ventura escrevia no X, que o Governo tinha demonstrado incompetência e desorientação. No mesmo post, terminava ainda dizendo: “Não sei para que andamos a pagar salários a tanta gente!”. Perante esta frase, a pergunta que imediatamente me surge é: Porque é que 50 deputados do Chega recebem milhares de euros todos os meses, se a única coisa que sabem fazer é gritar, criticar, mentir e adulterar os factos?
Mas creio que neste momento esse não é o ponto fundamental.
Cerca de uma hora depois, em declarações à SIC Notícias, André Ventura diz que se fosse Primeiro-Ministro nunca teria deixado o país às escuras durante tantas horas, que imediatamente teria comunicado com os portugueses para dizer o que se estava a passar. À pergunta do jornalista de como o pretenderia fazer, procurou esquivar-se, mas quando encurralado disse que teria enviado uma mensagem imediatamente.
Já o outro líder da coligação, Pedro Nuno Santos, também não adotou uma postura muito diferente. Nas declarações que realizou no dia seguinte, quando tudo já estava normalizado, acusou o Governo de também ter sido apagado e apontou o dedo ao facto das Ministras da Administração Interna e do Ambiente e da Energia não se terem apresentado à comunicação social.
No alto da sua hipocrisia, Pedro Nuno Santos foi ainda mais longe acusando Luís Montenegro de ter demonstrado falta de capacidade de liderança e mentiu ainda, dizendo que a primeira vez que o Primeiro-Ministro falou ao país foi às 21h30 da noite. É falso. Logo pelas cerca de 15h30 da tarde, já depois do Ministro da Presidência ter comunicado através das rádios, também Luís Montenegro se dirigiu à comunicação social.
Ou seja, ambos foram incapazes de ter um pingo de noção e reconhecer um excelente trabalho realizado por parte do Governo e das demais entidades competentes na forma como rapidamente restabeleceram a rede elétrica nacional. Tal como ouvi nestes dias, se aquilo que apontam como falha do Governo é apenas a comunicação, é porque tudo o resto correu mesmo bem.
Já no debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, o líder do Partido Socialista decidiu continuar a adotar a postura que até aqui o tem caracterizado. Uma postura onde a demagogia e a desonestidade intelectual são alguns dos ingredientes principais. Voltou a fazer insinuações graves sobre a idoneidade do Primeiro-Ministro, mesmo depois do Ministério Público já ter arquivado parte do processo e, para além disso, mentiu deliberadamente em matéria governativa, nomeadamente, no que toca à perspetiva de crescimento económico apresentada pelo Governo.
Em relação a tudo isto, poderia tecer inúmeros comentários e facilmente desfiar a hipocrisia e incongruência das palavras dos dois intervenientes em questão. Porém, neste momento da vida política portuguesa, penso que o que é mesmo fundamental salientar é a simbiose entre esta coligação que se tem vindo a tornar cada vez mais forte ao longo deste último ano, entre Partido Socialista e Chega.
Em meio à crise, André Ventura mais uma vez escolheu a infantilidade, a demagogia e o ataque gratuito, em vez de procurar auxiliar nas soluções e na transmissão de tranquilidade à população. Pedro Nuno Santos, decidiu apanhar o mesmo comboio, o da calúnia e o da crítica pela crítica, deixando de lado todo o sentido de Estado necessário.
A esta altura, André Ventura e Pedro Nuno Santos são duas faces da mesma moeda. Ambos demonstram toda a sede de poder que têm, não olhando a meios para atingirem os seus fins. São o rosto da bipolarização e da falta de bom senso que Portugal tanto precisa.
Há poucas semanas, Paulo Portas proferiu uma frase que neste momento faz todo o sentido:
“Querem votar em doidos, votem, mas depois não se arrependam”.