
Teve início, esta manhã, o julgamento que envolve dois ex-dirigentes do Chega de Oliveira do Hospital. João Rogério Silva é arguido no suposto caso de agressão contra António José Cardoso. É acusado pelo Ministério Público pelos crimes de “dano com violência” e “ameaça agravada”.
Na sessão, que arrancou hoje às 10h00 no Tribunal de Oliveira do Hospital, o arguido optou pelo silêncio. Depois de lida a “acusação pública” pelo juiz, António José Cardoso respondeu às perguntas, reportando a sua versão dos acontecimentos que remontam ao dia 19 de março de 2023, ocorridos, ao que tudo indica, na estrada “por trás do Parque do Mandanelho”, na cidade de Oliveira do Hospital, quando seguia em direção à empresa em que era diretor, em Mangualde.
Segundo explicou António José, o episódio surgiu na sequência da decisão da distrital do Chega de não o aceitar como coordenador concelhio do partido, nomeando João Rogério como tal, levando-o juntamente com “mais 28 militantes a apresentar a demissão”. De acordo com Cardoso, “a partir desse dia”, passou a “receber mensagens” com o seguinte teor: “dá-me as chaves da sede”, “o local é meu”, “sei onde tu moras”, “eu vou-te acertar o passo”. Apesar de ignorar algumas mensagens, o ofendido admitiu ter respondido a algumas, referindo como por exemplo “tem juízo”. Segundo explicou esta manhã, o local [da sede] foi-lhe cedido “por um amigo aquando da campanha em 2021” quando foi candidato pelo Chega à Câmara Municipal, pelo que não tinha obrigação de entregar a chave.

Desafiado a reconstituir a alegada agressão, Cardoso começou por adiantar que, na manhã do dia 19 de março, “cerca das 9h20”, sentiu “um toque no carro”, tendo abrandado e encostado, pensando tratar-se de um pequeno incidente. Viu depois “um carrinha branca” à sua frente, bloqueando a marcha. Foi quando viu João Rogério sair da viatura “com uma corrente dentro de uma mangueira e uma faca tipo militar”. “Ele sai do carro, vem e ataca do lado esquerdo, do lado do condutor, aos gritos «sai cá para fora»”. Cardoso não acedeu e diz ter ficado “sem reação”. Contou que o acusado fez estragos no carro da empresa do grupo Valérios Têxteis, inicialmente com o pedaço de mangueira e, depois, com a faca. “Só reagi quando bateu com a faca no vidro do condutor”, referiu, contando que, no imediato, temeu “pela vida” e fez “marcha-atrás” para fugir do local. João Rogério, segundo a acusação, levou a faca ao seu pescoço, simulando o corte “a gritar, com olhos vidrados, com raiva: eu vou-te matar, sai cá para fora, é hoje, isto é entre nós”.
Cardoso contou que, posteriormente, tomou o caminho da GNR através da “rua do campo de futebol”, tendo sido seguido pelo acusado até ao momento em que este se apercebeu que o lesado parou junto ao posto. Perante as autoridades, apresentou queixa do sucedido, situação que, segundo o auto de notícia anexo ao processo, só foi oficializada depois das 14h00. Este espaço temporal suscitou, esta manhã, dúvidas no tribunal, onde dois militares da GNR prestaram declarações, um que nessa manhã estava no “atendimento ao público e assinou o auto de notícia” e outro que, já ao início da tarde, acorreu a uma solicitação por parte de João Rogério de que a sua viatura estaria a ser rondada por amigos de Cardoso “no parque do estacionamento do Pingo Doce” onde se encontrava a almoçar com a esposa.
Cardoso, questionado sobre o impacto que este caso teve e está ter na sua vida, referiu que o obrigou a “mudar de vida, de rotinas e de ter receio de andar sozinho”. Diabético há 16 anos, admitiu que a doença se “descontrolou”, tendo mesmo que “alterar a medicação”. Avançou também que “dormir tornou-se complicado”. “Temi pela minha vida e pela vida da minha família. Acordo várias vezes durante a noite e tenho que tomar sedativos”, disse.
Interrompido às 12h30, o julgamento prossegue durante a tarde desta terça-feira, com audição de pelo menos uma testemunha que, naquela manhã, segundo Cardoso, o contactou a avisar que “fulano” estaria à porta de sua casa.
O processo tem nova diligência marcada para amanhã à tarde, onde vão continuar a ser ouvidas testemunhas, entre elas, José Carlos Alexandrino, arrolado pela defesa.
