
Samora Correia está prestes a entrar num novo ciclo de desenvolvimento com a instalação da futura cidade aeroportuária, prevista para o espaço do Campo de Tiro da Força Aérea, onde também será construído o novo Aeroporto Luís de Camões. O anúncio do Governo representa um marco histórico para a freguesia e para todo o concelho de Benavente, prometendo reconfigurar a paisagem urbana, social e económica da região.
Em declarações ao NS, o Presidente da Câmara Municipal de Benavente, Carlos Coutinho, foi claro ao afirmar que “Samora Correia vai conhecer uma nova realidade”. O autarca, que tem acompanhado de perto os desenvolvimentos do projeto, reconhece o seu potencial transformador, mas não esconde as preocupações que levanta — desde a proteção da identidade local até ao impacto social que esta megaestrutura poderá causar se não for devidamente acompanhada por políticas públicas de compensação e planeamento sustentável.
Coutinho sublinha que a instalação da cidade aeroportuária — que integrará zonas residenciais, empresariais, serviços, comércio, infraestruturas escolares, culturais e sociais — não é apenas uma requalificação urbana: “Estamos a criar de novo. E os impactos são fortíssimos”. Para o autarca, trata-se de uma oportunidade única, mas também de um desafio sem precedentes, que exige articulação entre várias entidades e um compromisso firme do Estado com o território.
Está prevista a criação de uma empresa pública ou entidade gestora que terá a responsabilidade de valorizar os ativos territoriais e gerar as receitas necessárias para financiar o desenvolvimento da nova cidade. Carlos Coutinho vê com bons olhos a constituição dessa estrutura, mas lembra que a autarquia, sozinha, não terá capacidade para responder às necessidades que o crescimento trará: “A Câmara Municipal não tem condições, por si só, para suprimir essas ofertas”.
Com uma larga faixa da população em situação de fragilidade económica, o presidente sublinha que a exclusão social é um risco real. “Temos muita gente com rendimentos baixos e não podemos permitir que essa gente seja deixada para trás neste processo. É preciso garantir que os que cá estão possam beneficiar do desenvolvimento e não apenas assistir a ele de fora.” Entre as necessidades identificadas estão a construção de novos equipamentos escolares, centros de saúde, respostas sociais para a infância e população sénior, bem como mais espaços para prática desportiva e acesso à cultura.
No campo da mobilidade, a questão das acessibilidades ferroviárias está também a gerar apreensão. O projeto inicial contemplava a criação de uma ligação ferroviária que atravessasse o concelho até ao Carregado, reforçando a conectividade da região. No entanto, de acordo com Carlos Coutinho, essa hipótese parece estar a ser descartada, sendo agora privilegiada uma ligação direta de Lisboa ao aeroporto, sem paragens intermédias. “Este território corre o risco de não ser mais do que uma zona de travessia. Uma coisa é termos o aeroporto na nossa porta, outra é dele tirarmos partido efetivo”, alerta.
Para o edil, a solução passa por um planeamento integrado, que vá além da lógica estritamente económica. “Não queremos replicar modelos urbanísticos desordenados. Samora Correia não pode tornar-se uma nova Amadora ou Odivelas. O desenvolvimento tem de respeitar a identidade do território, e isso exige visão estratégica.”
Apesar de todas as reservas, Carlos Coutinho não se opõe ao projeto — pelo contrário. Considera-o uma “grande oportunidade para inverter a tendência de estagnação e afastamento da região face ao resto do país e da Europa”. Contudo, reitera que essa oportunidade só poderá ser aproveitada se o Governo assumir um compromisso sério com os municípios que, como Benavente, não têm a robustez fiscal de outras autarquias metropolitanas. “Não somos Sintra nem Cascais. Precisamos de medidas específicas e de investimento público à altura do desafio.”
Com o horizonte de execução apontado para os próximos dez anos, a cidade aeroportuária de Samora Correia promete marcar uma nova era para o concelho de Benavente e para o território do Ribatejo. O que está em jogo é muito mais do que um novo aeroporto: é a construção de um novo modo de vida, onde o equilíbrio entre desenvolvimento e coesão social será determinante para o futuro da região.