
"Neste momento, há uma utilização abusiva, por parte da Turquia, da presença no seu território de vários milhões de migrantes e, claramente, o presidente turco a dizer que abria as fronteiras para a Grécia, estava a utilizar a presença desses refugiados na Turquia como arma de arremesso e isso é completamente inaceitável", declarou o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho à agência Lusa.
Falando à margem da reunião informal dos ministros da Defesa, que decorre na capital croata, em Zagreb, o responsável vincou que esta pressão turca "não surtirá qualquer tipo de efeito positivo".
"Por outro lado, há que ter em conta esta realidade, de a Turquia ter quase quatro milhões de refugiados no seu território, e isso, evidentemente, merece uma atenção especial da UE, uma atenção reforçada em relação ao que tem sido o caso no passado", sustentou João Gomes Cravinho.
Questionado sobre uma possível intervenção militar nas fronteiras externas da UE como forma de responder à Turquia, o responsável português rejeitou esta opção, privilegiando antes a via diplomática.
"O meu colega grego [ministro da Defesa da Grécia, Nikos Panagiotopoulos], com quem tive ampla oportunidade de falar à margem nos corredores, não pede nenhum apoio militar, pede apoio político", disse João Gomes Cravinho à Lusa.
Nos últimos dias, a tensão entre Ancara e Bruxelas tem vindo a intensificar-se após a Turquia ter anunciado a abertura de fronteiras para deixar passar migrantes e refugiados para a UE, ameaçando assim falhar os compromissos assumidos com o bloco comunitário.
Com a medida, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pretende garantir mais apoio ocidental na questão síria, mas a intenção já foi veemente criticada por líderes de topo da UE, inclusive pela presidente do executivo comunitário.
Apesar a Bulgária e o Chipre também serem pressionados, é sobretudo a Grécia que enfrenta esta pressão migratória nas suas fronteiras externas com a Turquia, o que levou o país a pedir, no passado domingo, que a agência europeia da guarda costeira, a Frontex, lançasse uma intervenção rápida nas fronteiras externas da Grécia no Mar Egeu.
A Bulgária também solicitou apoio europeu para lidar com a chegada de migrantes e refugiados à sua fronteira.
A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no âmbito do qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de ajuda financeira.
Porém, a Turquia, que acolhe no seu território cerca de quatro milhões de refugiados, na maioria sírios, anunciou ter aberto as fronteiras com a Europa, ameaçando deixar passar migrantes e refugiados numa aparente tentativa de pressionar a Europa a assegurar-lhe um apoio ativo no conflito que a opõe à Rússia e à Síria.
João Gomes Cravinho observou, ainda, que "neste momento há um ambiente de grande tensão e alguma ambiguidade no relacionamento da Turquia com outros membros da NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", pelo que defendeu "mecanismos para superar" esta situação, desde logo por Ancara ser "um aliado valioso".
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