
Cristina Ferreira e a história das mulheres que se “põem a jeito” continua a ser tema de conversa. Desta vez foi Luís Osório quem escreveu uma crónica sobre a apresentadora. Para surpresa de muitos, o texto centrou-se nos elogios e não nas críticas.
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“Cristina Ferreira pôs-se a jeito, mas tinha razão”, começou por mencionar o jornalista na sua página oficial de Facebook. “1. Durante toda a semana passada as redes sociais incendiaram-se com Cristina Ferreira. O assunto levou a comunicados, artigos de revista, notas de rodapé em jornais de referência e longas discussões em programas de grande audiência. Tudo por causa de um comentário da estrela da TVI no seu programa da manhã – a propósito da morte de mais uma mulher às mãos de um canalha, Cristina disse assim: “Temos mesmo de avisar as pessoas que mesmo relações que podem ter sido de amor, quando já entram na fase da perseguição, é preciso a polícia estar avisada. Não sei se esta mulher depois do baile entrou num carro com ele, e aí é que se calhar se pôs a jeito para que a tragédia acontecesse”, constata Luís Osório. De seguida, continuou a enumerar.
Leia texto na íntegra:
“2. Não conheço Cristina Ferreira. Estive com ela três ou quatro vezes, nunca falámos sem câmaras ligadas. Ao longo destes anos, a Cristina conquistou a pulso, e com uma enormíssima autoconfiança, um lugar no topo dos topos do universo mediático. Ganhou demasiada audiência. Ganhou demasiado poder. Ganhou demasiado dinheiro. Ganhou demasiada confiança. Para uns, para muitos, quando alguém vem de baixo, ainda por cima mulher e confiante, o momento das quedas, dos tropeços, das falhas é sempre uma celebração. Terrivelmente humano. Ver alguém de sucesso a cair, e podermos mandar umas bocas, é uma espécie de orgasmo múltiplo, uma luxúria, um bafo de felicidade nas nossas vidas.
3. Valorizo o que Cristina Ferreira conquistou e não me identifico com algumas coisas que fez ou representa. Porém, é preciso que se diga que teve razão neste comentário. É espantoso como uma parte de nós é capaz de rebentar com pessoas por causa de frases fora do contexto, por não pensar sobre o que se disse ou por sermos, cada vez mais, ovelhas num rebanho que só parece fazer sentido quando faz ‘mééééé’ ao mesmo tempo.
“Um canalha será sempre um canalha”
4. É verdade que há mulheres que se põem a jeito para que as tragédias aconteçam. Não por usarem roupas provocantes – era só o que faltava. Não por desejarem impor a sua vontade – era só o que faltava. Não por elevarem a voz, discutirem ou quererem ser respeitadas – era só mesmo o que faltava. Também não por terem culpa, são absolutamente inocentes. Mas quando um homem é violento, quando desde o primeiro momento é doentiamente possessivo, quando trata a mulher como se fosse sua exclusiva propriedade, quando humilha e maltrata, quando ameaça… quando tudo isso acontece e a situação se prolonga, quando com todos os indícios a mulher se mantém ou acredita que deve oferecer ao animal que tem em casa mais uma oportunidade, quando alguém que namora com uma besta quadrada continua a fazê-lo, quando alguém entra no carro de um homem que constantemente a ameaça por achar que nada de mal irá acontecer… desculpa-me, mas está a pôr-se a jeito.
5. Não por poder ser cúmplice do crime ou atenuar a bestialidade do cobarde que tem ao lado. Mas por acreditar em quem não merece. Por prolongar situações por achar que tudo será diferente amanhã. Por insistir no erro quando no seu íntimo sabe que a situação a leva a um beco se saída. Não se pode dar segundas oportunidades a pessoas imprestáveis. Um canalha será sempre um canalha, um cobarde será sempre um cobarde, um homem violento será sempre um homem violento. Há muitas coisas que não podemos controlar. E as mulheres são vítimas todos os dias do que não controlam. Já lhes basta morrerem às mãos de pessoas que as surpreendem numa noite que não previram. Não aumentem a possibilidade de o inferno ser eterno. Sai enquanto é tempo”, rematou.
Nas redes sociais, este artigo está a dividir opiniões.
Texto: Joana Dantas Rebelo Fotos: redes sociais