
Pelo menos 145 pessoas já assinaram a carta aberta para debate no setor do cinema, no seguimento de um debate sobre os princípios que devem guiar as relações entre os festivais, produtores e realizadores, após o IndieLisboa ter retirado da programação um filme e um projeto do realizador e produtor Ico Costa.
O autor de filmes como 'Alva' (2019) e 'O Ouro e o Mundo' (2024), que trabalha em produção através da Oublaum Filmes, que fundou em 2019, foi acusado por uma alegada vítima de violência doméstica de agressões verbais, físicas e psicológicas, "estratégias de intimidação, de chantagem emocional e de vitimização", durante um relacionamento há cerca de quatro anos.
Na sequência da denúncia, divulgada na rede social Instagram, a direção do IndieLisboa explicou que retirou da competição oficial o filme 'Balane 3', de Ico Costa, e um outro projeto por ele produzido, ainda não finalizado.
Contactado pela agência Lusa, Ico Costa refutou todas as acusações, dizendo que a denúncia é falsa.
Na carta aberta hoje divulgada, os subscritores começam por expressar solidariedade com todas as pessoas que tenham sofrido ou testemunhado situações de violência de qualquer tipo e manifestam a sua preocupação com "a falta de confiança que os canais oficiais de denúncia tantas vezes inspiram, levando as pessoas a recorrer à exposição nas redes sociais ou à partilha de emails".
"Em vez de ponderação, cuidado e proteção, o festival em questão emitiu um comunicado equívoco, levando o caso à comunicação social e permitindo um linchamento público", referem os autores da carta.
Para os subscritores, "um filme é o resultado de um trabalho coletivo, do investimento e esforço de várias pessoas".
"Qual a legitimidade de um festival de cinema para retirar da sua programação o trabalho de todas essas pessoas, lançando sobre ele opróbrio e suspeitas que em nada lhes dizem respeito?", questionam.
E adiantam que "o problema cultural do assédio, da violência doméstica, laboral, de género, bem como de outras formas de violência sistematizadas e com base em assimetrias de poder, precisa de ser afrontado com o compromisso de todo o setor. E precisa também de rigor, precisão nas ferramentas usadas, nas decisões tomadas, e nas formas de comunicação das mesmas. Caso contrário, gera-se apenas uma cortina de fumo que descredibiliza as vítimas, protege agressores e potencialmente vitimiza pessoas inocentes".
Os autores da carta consideram que "os festivais de cinema não possuem estas ferramentas" e que "não faz parte da sua missão, das suas competências, da formação dos seus trabalhadores e dirigentes".
"A condenação ao opróbrio e ostracismo são mecanismos que não podem ter lugar numa democracia", acrescentam os subscritores do documento, para quem esta é uma reflexão para continuar.
"Apelamos, por isso, ao debate e compromisso, por parte dos festivais de cinema e restantes organizações de exibição e distribuição, sobre estas situações e os limites da legitimidade para sentenciar realizadores e filmes", lê-se na missiva.
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